Traduzindo

sexta-feira, dezembro 21, 2012

A louça do Cafas

- Fala, Arturzinho. Beleza, Alice?
- Beleza, Cafas.
- Tudo ótimo, seu cafas. Que carinha triste é essa?

- Nem sei se é tanta tristeza assim.
- O que aconteceu?
- Perdeu alguma das inocentes?

- Deixa dessa conversa, Alice. Não foi nada de mais. Só uma conversa com meu pai há pouco tempo.
- Ele te mandou tomar juízo?
- Ele te mandou deixar de ser um cachorro?

- Estou muito bem de amigos mesmo, viu? Nada disso, só uma conversa besta. Eu tava lá escutando rádio e cantando aquela "amarelo deserto e os três tenores", do Djavan, quando ele apareceu.
- E aí?
- Sim, falando em música, escutei a tua ontem.

- Minha música? Como assim?
- Como assim, Alice?
- “O cara que diz que pensa em você toda hora/ que enrola todas e nunca namora/ que diz sempre ‘não posso, preciso viver’/ porque ele só quer pegar você/ e no meio da noite ele some/ nunca diz que te ama/ esse caaaaafas sou eu”.

- Alice... Menos, tá? Menos...
- Deixa disso! Eu achei ótima! Vou já colocar no Face.
- Não tenho culpa por ser tão criativa.

-Enfim, ele chegou e disse logo assim: “Tua mãe sabe dessa tua tentativa?”. “De ser cantor?”. “Não, de ser doméstica”. Aí eu comecei a rir, pensando ser uma piadinha mesmo.
- E não era?
- E ele não reclamou da tua cantoria desafinada e sem ritmo?

- Ele tava sério. Aí começou: “Rapaz, deixa isso pra tu mãe ou pra tua irmã. Isso é trabalho de mulher”. "Pai, elas vão chegar cansadas. Como eu não tô fazendo nada mesmo, vou ajudar”.
- E ele falou sério mesmo?
- E tu falou sério mesmo? Tu não perdeu uma aposta com tua mãe ou irmã não?

- Tudo sério. Ele ainda disse assim: “Cuidado não pra ir ficando afeminado”.
- Hum, sempre desconfiei.
- Nunca me enganou.

- Fiquei com muita raiva, mesmo sabendo que a criação dele foi assim e ser muito complicado mudar. Mas não ia permitir preconceitos e muito menos sair perdendo. “Pai, pois eu vi uma pesquisa interessante ontem dizendo que os homens que ajudam nos afazeres domésticos são mais felizes”. “E tu fica feliz lavando louça?”. “Eu fico feliz em ajudar, afinal, não custa nada. E ainda tem outra coisa, depois de lavar louça eu fico com um tesão danado, com uma vontade de sair beijando todas as mulheres. Pense numa sensação gostosa”. Ele olhou meio de lado, desconfiado, e saiu.
- Ele acreditou nessa conversa fiada?
- Isso é verdade mesmo?

- A parte da pesquisa é verdade mesmo, vi ontem no jornal. A segunda parte também. Coisa de doido, eu sei, mas tomara que ele acredite. Espero ver meu pai lavando a louça do jantar.
- A conversa tá boa, mas eu vou indo. Terminar de fazer umas coisas lá em casa.
- Vai lavar uma louça também, né, Arturzinho? Vai cair na conversa desse cafas?

- Não é conversa. Já falei. É coisa minha.
- Eu vou pra casa. Estudar. Tenho prova e também não nasci ontem. Conheço a peça.
- Sei.

- E tu, Alice?
- Eu tô bem, de férias já. Vamos lá em casa?

- Rum, já vi tudo. Vai me colocar pra lavar a louça e ver se a história é verdadeira, né?
- Como tu é inocente... E eu sou besta? Nasci ontem? Quem disse que tu precisa lavar um monte de louça pra ter essa vontade? Tu tem essa vontade de agarrar todo mundo o tempo todo, eu sei. Deixa de conversa besta e vamos andando. Não vamos perder tempo com besteiras...
=]

sexta-feira, dezembro 07, 2012

O silêncio

Falamos, sim
mas muitas coisas
não são ditas com a boca
Falamos
Com o corpo todo
(e quando há o encontro
do corpo com a boca
ou vice-versa, melhor)
Sorrio
com os olhos
E choro
pesadamente
com o olhar
Inquieto-me
com as pernas
E acalmo
com um toque

Com o sorriso dos olhos
te atraio
E te acalmo
com um toque
Te envolvo
em um abraço
enquanto meu coração
colado ao teu
diz assim:
“Segue batendo,
porque a vida,
tão linda,
ainda não acabou”

Então, quando
olhar para o céu
procurando as estrelas
E encontrar meus olhos
Sorrindo
Há de fechar os teus
querendo-os
tão somente
de encontro aos meus
E a boca
sempre tão falante
Há de desejar somente
O silêncio...

=]

sábado, novembro 17, 2012

O mundo dá muitas voltas

O mundo dá muitas voltas
Muitas voltas o mundo dá
Se em uma vida fui escravo
Em outra posso governar

O mundo dá muitas voltas
E eu preciso contar
Felicidade é um verso
Com um sorriso pra rimar

O mundo dá muitas voltas
Muitas voltas ele tem que dar
Ontem eu cheguei ao mundo
E amanhã vou vadiar

Foram tantas voltas
Que nem lembrei de contar
Tanta coisa acontecendo
E eu perdido a olhar

Tantas voltas deu o mundo
Que o negócio começou a desandar
Vi urubu nadando firme
E baleias a voar

Foram tantas as voltas do mundo
Que preciso registrar:
“Ri melhor quem ri por último”
É uma verdade exemplar

Em certa volta do mundo
A Razão quis me chamar
Dei-lhe um tapa atrevido
E o Coração eu fui beijar

Em uma das volta do mundo
Com certeza vais lembrar
Éramos dois santos inocentes
Com vontade de pecar

Nas muitas voltas do mundo
Nas muitas que ele dá
Só uma coisa me entristeceria:
Não poder mais te encontrar

Em outra volta do mundo
Essa foi de arrepiar
Me disseste que ia embora
Quase morro de chorar

Nessa última volta do mundo
A Vida veio me falar
- Fica calmo, meu poeta
A Morena e o Amor
Nunca vão te abandonar...
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quarta-feira, outubro 31, 2012

Crônica da coragem

Aquela "boquinha de me beija" ainda vai acabar comigo, pensou Paulo, esperando a vez no oftalmologista. A moça, dona de tal boca, estava sentada em frente a ele, também esperando a vez de ser atendida. Usava um Ray Ban moderninho, blusinha social e uma calça preta. Era bonita, branquinha, daquelas que por qualquer solzinho já estão rosadas ou avermelhadas. E tinha uma boca tão vermelha e carnuda... Como se ficasse fazendo um “bico” o tempo inteiro.

Paulo se sentia desafiado por aquela boca. Tentava não ficar olhando o tempo todo e detestava não saber para onde a jovem olhava. Quando um lugar ficou vago ao lado dela, hesitou por um momento. Diante de inúmeros pensamentos dizendo para não ir, para deixar a moça em paz e que não iria dar certo, resolveu mesmo esperar mais um pouco.

Sentado, começou a pensar em um jeito de se aproximar. Pensou em começar com a cantada mais clássica de todas: “Oi”? No entanto, ficou com medo de parecer muito atirado. Falar do tempo não dava, dentro do consultório não podiam ver o céu. "Você não é Fulaninha?" É umas das mais velhas e constrangedoras. Se dissesse "vem sempre aqui?" ela poderia rir dele e da pergunta, achando-o um lesado.

Por um momento, pensou em deixar rolar. Se fosse para acontecer, aconteceria. Coisas da vida, né? Destino. Talvez, quando ele fosse se sentar ao lado dela, ela puxasse conversa com ele, afinal, não era tão desprovido de beleza e até que estava arrumado. Era não esperar por nada e deixar o inesperado fazer a parte dele.

Até começou a pensar no propósito daquilo tudo, dessa insegurança. Talvez ela nem fosse nada de mais. Podia até ser uma pessoa má. Poderia até ser uma pessoa de caráter duvidoso e aquela boquinha seria a única coisa boa nela. Não duvidava nada tivesse ela sofrido muito em vidas passadas e Deus tivesse dado aquela tentação em forma de lábios como recompensa por uma vida dura. Talvez fosse boa pessoa e tivesse sempre de resistir ao pecado por conta da boca tentadora.

Mas ele resolveu agir, o inesperado. Ela foi chamada e, depois de uns quinze minutos, estava pronta para ir embora. Paulo não soube o que fazer. Tremeu e suou frio. O instinto romântico lhe disse para ir lá, se apresentar e dizer: “Moça, com licença, sei que somos desconhecidos e peço desculpas se a ofendo, mas não poderia deixá-la ir embora sem antes elogiar a tua beleza. Já vi, admirei e conheci muitas mulheres e em nenhuma delas vi uma beleza e uma boca como a tua. Pode me dar uma chance de te conhecer?”.

Mas não foi bem assim. Até se levantou usando toda a coragem do mundo. Foi em direção à porta, parou em frente à moça e se esforçou ao máximo para não gaguejar enquanto fazia a mais inesperada das perguntas: “Moça, sabe dizer se ele ainda pede pra dilatar a pupila antes?”.
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terça-feira, outubro 09, 2012

Felicidade

Esses dias, mesmo com uma quantidade absurda e totalmente desnecessária de propaganda política, um outdoor conseguiu chamar minha atenção. Nele, um sujeito de meia idade, de cabelos pretos e um pouco acinzentados, sorria. Um sorriso largo. E mais: de braços abertos, convidava-nos para comprar um livro de sua autoria: "Agarrando a felicidade". Convidava de um jeito acolhedor, como quem só quer dar um abraço afetivo. Tinha uma mágica no jeito vender.

Não tenho nada contra os livros de autoajuda, confesso. Sem preconceitos mesmo. Também não acho que seja uma forma menor de literatura. Nada disso. Só prefiro ler outros tipos de textos. Romances, crônicas, literatura fantástica e alguns poemas de vez em quando me fazem bem mais feliz.

Na verdade, acho que me sentiria bem infeliz lendo um desses livros sobre felicidade. Porque, assim, só de saber da existência de livros com títulos como "Encontrando a felicidade"; "Na trilha da felicidade", "Felicidade para todos", entre outros, fico a pensar o seguinte: "Bem, se alguém se preocupou em escrever receitas e mapas sobre esse sonho coletivo, deve ser para mostrar a dificuldade de se encontrar a felicidade por aí, numa esquina qualquer ou esperando por mim quando eu chegar a minha humilde residência. Então, lerei um deles e descobrirei um monte de fórmulas para ser feliz que eu não fiz e, logo, não poderia ser feliz".

Hoje em dia, vende-se felicidade como se ela fosse uma refeição, com receitas de chefs de toda parte mundo. E não deveria ser assim. Se fosse para ser vendida, deveria ser em farmácias de manipulação, com uma receita bem diferente para cada pessoa. Enquanto para alguns a felicidade é uma mansão na praia, com som alto e muita gente dançando, para outros, ela se traduz em uma casinha no meio do nada, como no friozinho do alto da serra, com uma garrafa de vinho, um amor enrolado no pescoço e um vira-lata pra espantar o silêncio de vez em quando.

Depois de bons anos de pesquisa, com a minha vida, com a dos outros, com livros, música e filmes, descobri que a felicidade está nas coisas mais simples da vida. Ela é como um Sonho de Valsa depois do almoço, uma brisa refrescante durante um dia de sol forte ou um abraço bem apertado em quem a gente gosta. Ela pode ser até uma crônica bem gostosa, que termina de repente, deixando um sorriso besta no coração da gente.
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domingo, setembro 30, 2012

O sonhador e a princesa

Ainda era cedo, por volta das sete e meia da manhã de um sábado, mas o trânsito da Capital não dava mais folga em horário ou dia algum. Alberto não estava atrasado, saíra cedo de casa já pensando em evitar congestionamentos e chegar cedo ao consultório médico. A consulta com o clínico geral estava agendada há mais de um mês e já fora adiada diversas vezes. Precisava resolver o problema da dor nas costas. Aquilo estava acabando com o bom humor dele.

Para distrair, o aparelho de som do carro alternava músicas em formato mp3, numa verdadeira salada de gêneros musicais. Saiu de casa escutando “Tarde em Itapuã”. Na sequência, passou por “Is this Love”, “Cintura fina”, “Blood brothers”, “O beco”, “Disparada”, “Saudosa Maloca” e estava tocando “Lambada complicada” quando o semáforo avermelhou.

Estava na Avenida Borges de Melo e começou a reparar na grande quantidade de pessoas indo ou voltando da Rodoviária. Homens, mulheres e meninos com bolsas, sacolas e mochilas das mais diversas cores. Vestidos, bermudas, calças, saias, tênis, chinelos, bonés e chapéus faziam o vestuário dos viajantes.

Foi seguindo o movimento com os olhos até parar em uma banca de revistas. Sentada, à sombra de uma mangueira, uma figura lhe chamou a atenção. De pernas cruzadas, com blusa laranja e shortinho jeans, uma garota. A jovem possuía cabelos pretos, pernas bonitas e um olhar perdido. Um senhor, talvez dono da banca, conversa animadamente com ela. Ou pelo menos tentava, pois ela não dava muita atenção.

Alberto não conseguiu tirar o olhar. A música a tocar dizia assim: “Linda princesa, não aja sempre assim, escrava dos sentidos, procure outra maneira...”. Ficou a pensar: “Rapaz, que mulher mais linda! Mais parece uma princesa de conto de fadas. E se for mesmo? Será que me levaria até o reino dela? Será que me permitiria ser seu príncipe encantado?”.

Elaborou um plano. Quando voltasse da consulta iria conversar com ela. Já tinha pensado em tudo. Seria mais ou menos assim:
- Oi, bom dia. Está precisando de uma carona? Posso te ajudar?
- Oi, bom dia. Estou esperando pelo meu príncipe encantado, que ficou de vir me buscar e ainda não chegou.

- Ora, veja só, isso não se faz. Também posso ser teu príncipe e te levar para casa.
- Mas, senhor, o meu príncipe é loiro e tem olhos azuis, além de ser alto e musculoso.

- Eu posso ser um pouco careca, usar óculos e ter uma barriguinha saliente, mas eu estou aqui e posso te levar para casa.
- Senhor, fico agradecida, mas é longe demais.

- Eu tenho combustível para rodar o país inteiro, se necessário.
- Mas é preciso atravessar lagos e rios para chegar lá.

- Tudo bem, meu carro anda sobre as águas.
- Senhor, deixe de delírios. Isso não existe.

- Princesa, não faz mal, seu reino também não existe e mesmo assim eu quero ficar com você. Você sendo delírio ou não da minha cabeça, não importa.

E ela entraria no velho Fiat Uno, modelo 1994, e eles seriam felizes para sempre, caso ela esperasse por ele...
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terça-feira, setembro 18, 2012

Quando morre um cronista

Quando morre um cronista, a vida e a poesia sentem uma pontada de dor. Uma perda para todos. Um cronista tem diversos tipos de morte. Primeiro, quando não mais escreve. Assim, morre o cronista, permanece a obra. Outra morte é quando ele cai no esquecimento, uma morte mais cruel essa.

O cronista é o observador da vida por natureza. Ele vai contando histórias com base em experiências suas e dos outros, além de colher doces frutos da imaginação. Quando o acompanhamos, parece mais próximo, mais humano. Se publicado em jornal, vamos direto atrás dos textos. Quando em livros, são leituras e releituras ao longo da vida.

No dia 10 de setembro de 2012, o cronista Airton Monte faleceu, vítima de um câncer. Não o conheci pessoalmente e nem por troca de correspondências. As crônicas publicadas em um jornal foram o meio. Apesar de médico, letrista, contista, teatrólogo e mais, pra mim, era cronista por excelência. E ali estava um cronista de verdade, como eu sempre quis ser.

Lembro-me dele falando que farofeiro é farofeiro, seja numa praia local ou na Disneylândia, ou algo do tipo. Lembro também dele falar sobre o cronista parecer um vampiro, ao escutar histórias dos outros, ou algo do tipo. Lembro-me dos almoços de família aos domingos, da macarronada com galinha à cabidela, do vinho, das conversas com Dom Airton.

Lembro-me dele falando com e falando das musas, de poetas, músicos, amigos, romancistas, da mulher amada, da dificuldade em escrever. Sentia como se o conhecesse e fiquei triste e aéreo quando ele faleceu. Sempre quis ser um pouco como ele. Apaixonado, boêmio, culto. Um cronista de verdade.

Quando um cronista morre, as crônicas sobrevivem. As histórias, sentimentos e lembranças também. Tudo eternizado pelo meio de comunicação efêmero por excelência, quando todo dia uma nova crônica precisava nascer, “na base do fórceps”, memória ou criatividade. No gênero considerado “menor” foi onde eu conheci os maiores. Justo seria o jornal ficar mais barato, pois agora a dose de lirismo e poesia diária já não é a mesma...
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“O cronista é um lírico de passagem; se expressa de súbito, ao se deparar com o catalisador da emoção poética” (Davi Arrigucci Júnior, no texto Braga de novo por aqui, no livro Os Melhores Contos – Rubem Braga).

sexta-feira, setembro 07, 2012

Tempo de Olimpíadas

- Olha aí, rapaz, quem apareceu! Grande Otávio! Como é que vai essa força?
- Meu amigo Alberto! Tudo indo tranquilo demais por aqui. Só o Brasil que me tira do sério, mas tudo bem.

- Ah, compreendo, não tá fácil pra ninguém. Essa história de o Brasil ser um país corrupto já deu! Precisamos mudar nossa imagem.
-Bem, eu tava falando das Olimpíadas. Onde já se viu, rapaz? Desempenho sem comentários esse nosso!

- Hum, Olimpíadas, claro.
- Acompanhei tudo que dava para acompanhar. Saía correndo do trabalho, via algumas competições escondidas por lá e ficava em casa devorando tudo sobre a competição. Aprendi tudo sobre vela, pentatlo, ginástica artística e tudo mais. Não perdia nada. Tu tava acompanhando também, né?

- Rapaz, esses dias eu andava meio sem tempo. Chegava a casa tarde e dava só uma olhadinha nas notícias...
- Como é que pode, meu amigo? O Brasil lutando por medalhas e você aí sem dar a mínima atenção? Não viu nossas conquistas e fracassos? Conseguimos algumas glórias, mas em alguns casos foi de ficar com vergonha!

- Então... Lembro de ter visto algumas notícias interessantes no jornal esses dias...
- Sobre os jogos?

- Bem, outro tipo de jogo. De corrupção, onde nós temos sempre medalha de ouro, caso não roubem. Esses dias eu li sobre o julgamento do mensalão. Será que vão mandar os corruptos pra cadeia? Será que vão desmontar o esquema? Li também sobre uma relação entre o tempo de exposição na mídia e a possibilidade de eleição de um candidato. Não sei se isso é verdade, mas é uma amostra da força da mídia e do dinheiro, né? Li, ainda, sobre a questão das cotas nas universidades. Não sei como vai funcionar, acho que preciso ler mais para poder formar uma opinião. O que você acha?
- Eu acho que você só tá lendo besteira. Você tá perdendo é tempo, meu amigo, devia era prestar mais atenção nos jogos... O Brasil disputando medalhas e você aí, sem torcer. Antipatriota. Não se importa com a nação, não é? É cada um que me aparece...
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sexta-feira, agosto 17, 2012

Cinco anos de viagens

Cinco anos. Poxa vida. No dia 13 o blog fez cinco anos. Cinco anos. Eu pensei que esse ia ser um dos aniversários mais tristes daqui pelo fato de eu andar meio desaparecido.

Andei achando os meus escritos muito chatos, sem graça e por isso não postei mais nada. Fiquei pensando: será que eu não sei mais? (se é que um dia eu soube) Onde é que tá a inspiração? Onde se escondem as boas histórias?

Fiquei pensando em todos os meus defeitos também.

E fui dar uma olhada no blog e vi quanta gente legal já passou por aqui, comentando ou não. E vi que já fiz uns textos e versos bem legais, que de vez em quando eu até volto pra reler.

Relendo um dos antigos, lembrei que nem todos os textos eram bons ou ruins, que eu somente vinha e postava e não me preocupava muito. Se ficasse bom, beleza, caso não, beleza também. E lembrei que eu não tenho só defeitos, tenho algumas qualidades, sim! Mesmo não lembrando nenhuma pra citar agora.

Não vou prometer nada, como das outras vezes. Vou ser eu e pronto (isso já é uma promessa?).

Vou voltar a escrever e colocar os textos por aqui, os teoricamente bons e teoricamente ruins. Todos. Como sempre foi.

E outra coisa, muito obrigado. Sou muito agradecido pela atenção. De verdade. Não importa se comentou ou não. Só de vir aqui e ler alguma coisa, já acho legal. Na verdade, acho massa quando alguém dedica uns minutinhos do dia pra passar por aqui.

Gosto de escrever e de compartilhar as minhas viagens e até conheci boas pessoas por causa do blog.

Bem, é isso aí, não sei mais o que dizer. Vamos em frente.

Aos amigos e desconhecidos que de vez em quando passam por aqui,

Beijos e abraços
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sexta-feira, julho 27, 2012

Traição

Esperava na fila do banco quando duas mulheres chegaram: uma gordinha e morena e uma magrinha e branquinha. Conversavam muito animadamente, faziam gestos, caras e bocas. E riam. Muito. Simpatizei com as duas, pois me fizeram rir um pouco e quebraram a chatice e a tensão do ambiente.

Então, começaram a falar mais baixo, trocando olhares desconfiados e falando bem próximas uma da outra. Deveria ser um segredo bem pesado. A magrinha balançava a cabeça negativamente enquanto a gordinha fazia caretas e mais caretas como se não estivesse gostando de alguma coisa. Começou a se exaltar, a falar mais alto e a gesticular mais. Até falar em alto e bom tom, girando um dedo no ar:

- Mulher, o seguinte é esse: uma amante aceita qualquer coisa, menos traição. Ah, mas não aceita mesmo. Não aceita de jeito maneira.

E ficou com uma cara enfezada, de poucos amigos e muitos inimigos. Começou a resmungar com a magrinha:

- Não tô dizendo mesmo... Falta de vergonha isso...
- Mulher, deixa isso pra lá... Ele não presta não...
- Ah, mas ele presta, presta demais! É que tu não conhece...
- Ele não é homem pra ti não! Vai atrás de outro...
- Quê?!! Homem meu, é meu até o fim!

E a mais fortinha seguia bufando feito um touro, enquanto a magrinha, com cara de ser bem paz e amor, tentava acalmá-la.

- Amiga, tem calma, por favor...
- Eu descobri que o safado tem outra. Outra! Como é que pode?
- Ah, mas eu conheço a outra...
- Conhece? Você conhece? Conta agoooora!
- Oura, é tu.
- Sim, esperta, fora eu...
- Conheço também...
- Quem é essa futura morta?
- É a mulher dele...
- Mulher, ou tu é muito lesada mesmo ou tu tá frescando com a minha cara. Acorda! Eu descobri que ele tem outra “outra”, quer dizer, outra além de mim, a outra oficial.
- Aff... Tem gente demais nessa história, é “outra” demais pra minha cabeça...

E a morena continuava enfezada, batendo o pé no chão e falando barbaridades sobre o tal sujeito. Eu juro, não queria participar e nem escutar nada, mas não tinha como, elas estava muito perto e eu ficava o tempo todo fingindo não estar escutando.

- Mulher, sabe de uma coisa? Eu vou é até o trabalho dele e esperar o horário de almoço pra perguntar direto pra ele quem ele pensa que é pra me trocar por uma qualquer! E eu quero é que ele negue! Eu quero!

- Amiga, deixa isso pra lá, larga esse homem. Ele é cilada. Casado já. Deixe ele, a outra e a mulher dele pra lá! Vai atrás de quem te valoriza como mulher, te respeita e te quer bem de verdade. Procura algum homem de verdade e larga esse cafajeste!

-Amiga, tu arrasa mesmo. Falou e disse. Eu vou fazer isso mesmo. Vou agora mesmo esperar ele sair pro almoço e dizer pra ele que tá tudo acabado! Se duvidar, ele ainda ganha umas mãozadas, só pra ver se deixa de ser canalha. Fique tranquila, amiga, não vou voltar pra ele não. Depois disso, nunca mais vou querer ver aquela cara feia dele!

- Isso, mulher, chuta que é macumba!

Nisso, a morena foi embora e a branquinha ficou. Esperou a amiga sair do banco, pegou a bolsa, tirou o telefone, discou alguns números e começou a falar:

- “Oi, amor” uma ova! Tá com amante nova, é? Tá me traindo, seu cachorro? Bora, canta o jogo, quem é essa? Como é? Quem é?...

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quinta-feira, julho 19, 2012

A grande causa

- Então, companheiro, qual é a tua causa?
- Oura, a minha causa é o amor.

- O companheiro tá de gozação comigo?
- Jamais! Longe mim! Eu sou um homem sério! E se ficar melhor, pode acrescentar aí: paixão, desejo, tesão, essas coisas...

- Se o senhor não se explicar eu vou pedir para...
- Opa! Mas é tudo verdade! Se não fosse o amor do meu pai pela minha mãe, e também a paixão, desejo, tesão, essas coisas, eu não estaria por aqui. E posso ser até mais específico. Coloque aí que foi uma mistura de óvulo com espermatozoide, uns cromossomos, acho que X e Y, e pode ter uns Z e outras letras mais...

- Meu companheiro, qual é a causa pela qual você luta? Essa é a causa que nos interessa!
- Ah, rapaz, eu pensei que era a minha causa, quer dizer, o que me causou, entendeu, né? Peço desculpas. Bom, a minha causa... A minha causa... Coloque aí que a minha causa é um mundo melhor.

- Como?
- Como? Ora, com uma divisão mais igualitária das riquezas, pois o grande mal desse mundo é a concentração de renda. Em alguns lugares tem gente morrendo de fome, em outros, alimentos sendo estragados. Assim não dá. Tem mais, a natureza tá se acabando. Nós precisamos fazer alguma coisa. Outro grande mal do mundo é a falta de amor. Sim, pois precisamos muito do amor. Já diz a música: tudo que nós precisamos é amor...

- Pois bem, e o que o senhor está fazendo por esse mundo melhor?
- Assim, recentemente, só compartilhando umas coisas pela internet, porque eu ando meio sem tempo e também não posso sair do trabalho pra ir pras manifestações. E tem aquele sol, né? Poxa, forte demais! No campo geral, compartilho essas mensagens bonitas e ajudo algumas ONGs. E saio por aí espalhando minha simpatia, mesmo não sabendo como isso faz o mundo melhor. Enfim, eu tento.

- E o que o senhor anda fazendo pela natureza?
- Não jogando lixo nas ruas e economizando água. Tomando menos banhos. Brincadeira. Sim, o principal: andando de ônibus. Tudo bem que não tenho carro, mas acho que já é alguma coisa. Prestigiar o transporte coletivo, né? Acho que já é alguma coisa sim...

- Então, senhor, precisamos finalizar a entrevista. Nosso objetivo nesses mutirões em praças é conseguir o maior número possível de aliados. Para finalizar, o senhor quer entrar em nosso partido por qual motivo?
- Ah, é um partido? Rapaz, então foi engano, eu pensei que o senhor era do Ibope...
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quarta-feira, julho 04, 2012

Quando o dia é bom

O dia não é bom quando começa com o vizinho ligando a TV, o som e o liquidificador ao mesmo tempo. Não melhora quando ele insiste em arrumar as crianças, chamando-as aos gritos e falando ao telefone, em alto e bom som, para toda a vizinhança escutar as atrocidades cometidas por ele no trânsito ou na empresa onde trabalha.

Falando em trânsito, o dia não é bom quando você sai de casa todo arrumado e perfumado e precisa entrar e ser espremido no coletivo para chegar ao trabalho. Ele não melhora quando você tem a oportunidade de pegar o carro e, dez minutos depois, dá de cara com um engarrafamento quilométrico. Não fica melhor quando um motoqueiro leva o seu retrovisor ou um flanelinha insiste em lavar o vidro e acaba por sujá-lo mais, fazendo cara feia por conta da pequena contribuição.

Falando em contribuição pequena, o dia não é bom quando as pessoas só chegam perto de você para reclamar da falta de dinheiro, mesmo ganhando bem. Elas não reclamam da falta de planejamento, reclamam somente da “má sorte” de terem necessidades econômicas fortes. Não melhora quando a pessoa não reclama apenas da falta de dinheiro: reclama de tudo.

Dinheiro, marido, mulher, filhos, pais, cachorros, papagaios, trabalhos, namorados, amantes, frio, calor, gordura, magreza e um mau humor que de longe dá pra ver uma nuvem negra. Não fica melhor quando você percebe que a pessoa passou o dia inteiro sem rir ou sorrir de nada.

Falando em rir, o dia não é bom quando na hora do almoço todos insistem em contar somente desgraças. Tudo bem que o mundo não é feito só de alegrias, mas não tem como deixar o horário um pouco mais leve? Já bastam as notícias ruins que só faltam espirrar sangue no noticiário...

Outra coisa, o dia não é bom quando nós temos uma reunião extremamente longa de trabalho na qual as pessoas não se respeitam. Não querem escutar, só querem falar e só querem estar certas. Não melhora quando os problemas não são resolvidos e as discussões não cessam, mesmo após uma tarde inteira na reunião. E, depois de tudo, o clima fica tão frio que nem com o ar-condicionado desligado ele ficaria mais ameno.

Na verdade, o dia é bom quando, apesar de tudo isso, a gente não se deixa abater. Quando a gente consegue rir um pouco e ficar perto de pessoas legais. E melhora quando você chega em casa e encontra a família toda lá, mesmo cada um em um canto fazendo uma coisa diferente. E fica melhor ainda quando encontramos com nossos amigos, no mundo real ou virtual. E fica per-fei-to quando você atende o telefone e escuta: Oi, amor.
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sábado, junho 16, 2012

O palhaço

Quando o motorista freou o ônibus bruscamente, ninguém entendeu nada, como de costume. Não subiu nenhum idoso, gestante, policial, oficial ou funcionário dos Correios pela porte da frente. Nem mesmo era uma paquera do motorista. Quem subiu as escadas lentamente e com ar cansado foi um palhaço. Um antigo conhecido do motorista.

Assim que subiu, disse um triste “boa tarde” e o coletivo entrou em delírio, como se todos tivessem sido picados por algum inseto com veneno alucinógeno. Todos começaram a rir. Alguns, com aquelas risadas largas, espaçosas, de se encher uma casa. Outros, com aquelas risadas tímidas, com a mão em frente da boca, ou rindo sem fazer som algum.

O motorista ria tanto que mais parecia prestes a sofrer um ataque cardíaco. Rindo, esqueceu da greve vindoura e da falta de dinheiro para pagar o plano de saúde da família. O cobrador ria e levantava as pernas de tanto rir, esquecendo-se das parcelas em atraso do apartamento e das prováveis traições da mulher.

Todos riam ao mesmo tempo como um coral bem organizado de risadas. E esqueciam do calor que fazia, da demora para chegar em casa, da falta de dinheiro para o remédio, do desemprego, das dores nos pés e nas costas, da fome, do agiota ligando o tempo todo, das contas no mercadinho e do motivo de tanta risada.

Os passageiros todos riam e, se ali fosse um picadeiro, o palhaço seria o mais feliz dos homens. Mas só ele não ria. O palhaço, centro irradiador da alegria desvairada para todo o ônibus, era o único a não rir. Por um momento, pensou em dizer ao pessoal que tinha acabado de perder o emprego e a namorada, além de andar pensando em largar a profissão e voltar a vender pipoca. Ninguém se importava se ele estava triste, ninguém nem ao menos foi lhe contar uma piada.

No entanto, as risadas encherem o coração do palhaço de alegria. Mesmo sem querer, ele viu que poderia fazer a diferença na vida das pessoas. Estava decidido a procurar um novo lugar para fazer suas palhaçadas. Pensou no Congresso, embora logo tenha largado a ideia, pois não iria gostar dos companheiros de trabalho. Uma coisa era certa: iria fazer de tudo para ser o melhor palhaço do mundo. Iria levar o riso para todo o planeta.

Não ia acabar com a fome, nem com as guerras ou injustiças, mas lembrou que uma risada bem gostosa ou um simples sorriso carrega força suficiente para mudar o nosso dia e deixá-lo um pouco melhor...
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quarta-feira, maio 23, 2012

Perdi foi nada

Perdi o sono
O sonho
E a hora

Perdi o momento

Perdi tanto
Que é tão pouco
E quase
Quase
Nada

Perdi o dinheiro
E os falsos amigos
E poderes

Perdi o sono
O sonho
O samba
O cinto
E a saia

Perdi a graça
De não ter nada

Perdi a fala
E a falácia
Ah, mandei embora

Perdi a farra
E o pós-farra

Perdi o talento
E o momento

Perdi a rima
E o meu ritmo

Perdi foi nada
Eu tenho tudo

Perdi o medo
E a vergonha

Abri os olhos
Te vi ao lado

Achei a vida
Uma be-le-za

Achei você
Achei a graça
=]

sábado, maio 05, 2012

Combinando

Halls?
Halls.

É do preto.
Sem problemas, eu gosto.

Sabe por que eu gosto desses?
Por quê?

Porque é forte. Eu gosto dos fortes.
Eu também.

E também me deixa com uma sensação na boca
Eutambémfaçoissoenãosouhalls

Quê?
Eu também acho isso muito legal.

Ah, tá.
É.

Sono?
Sono.

Cansaço.
Cansaço.

Quer dormir?
Você quer?

Não, tava só perguntando.
Quer escutar música?

Qual música?
Chico, pode ser?

Pode demais!
Toma.

Ei, isso não é Chico.
É sim. Chico Science. Pai do manguebeat.

Eu pensei que era outro Chico.
Foi mal.

...
...
...
Ei!

Oi?
Nunca vai dar certo, né?

É verdade. Não podemos nos enganar.
Não combinamos, não tinha como dar certo.

É por eu ser de Áries e você de Sargitário?
Eu pensei que era por eu torcer pelo Ananindeua e tu pelo Caxias...

Então, não influi o fato deu querer morar na Guiana e você gostar de sorvete de flocos?
Bom, temos que considerar que eu toco bateria e tu é fã dos Gipsy Kings

E se a gente desconsiderar os teus olhos cor de mel e o meu francês meia-boca?
Anulando o fato deu pintar quadros e de tu gostar do Rolling Stones...

Então, esquecendo que eu já fiz natação e que tu aprendeu a andar de bicicleta sem as mãos...
... Mais o fato de tu saber fazer torta e de eu saber assobiar Codinome Beija-Flor.

Isso! É só não lembrar que eu trabalho com contas e que tu não gosta de tatuagens!
Pronto! Opa, não vale lembrar que tu gosta de Reggae e que eu já quebrei uma perna!

Ótimo!
Maravilha!

E agora?
Hum...


...
...

Pois é...
Pois é...

Se tu quiser...
Se quiser alguma, sei lá...

Eu acho que...
Vem logo aqui e me dá um beijo!
=]

quarta-feira, abril 04, 2012

Crônica para as mãos dadas

Engraçado como um ato pode ser tão simples e tão significativo ao mesmo tempo. Esperava o trem da vida me levar para mais uma de minhas viagens, mas nada dele chegar. Nem sinal. Nenhuma ligação ou lembrança. Enquanto aguardava, o tema da crônica passou do outro lado da rua, lá na outra calçada, em frente à sorveteria. Era bem simples e, ou sou muito besta, romântico e viajo demais, ou ninguém mais valoriza o que eu vi. Foi discreto, mas para mim o tema parece ter assobiado e gritado “e aê!”.

O que aconteceu mesmo? Bem, não foi nenhuma desgraça ou ação social digna de nota no jornal local. Eu vi um casal passar de mãos soltas e, depois, juntaram as mãos. Andavam lado a lado quando deram as mãos. Pronto! Contato. Ligados. Unidos. Um ato nada sensual, sexual ou coisa do tipo, mas muito gostoso.

Eu sei, parece besteira, mas eu acho o máximo essa história de andar de mãos dadas. É uma forma de carinho pública e sem restrições, diferente do beijo. É um ato simples e de uma significação tremenda. Como assim? Bom, até onde eu sei, quando alguém está só “ficando” com uma pessoa, prefere não dar as mãos com medo de parecer “sério” demais e das outras pessoas todas já identificarem como namoro algo que ainda não está bem resolvido. Eu até conheço amigos usuários da prática, mesmo sem namorar nem nada, só pelo carinho mesmo.

O casal usuário costuma criar alguns códigos. Um puxão de leve indica uma direção, um forte, um desacordo, possível briga. E há códigos ainda mais suaves, quase imperceptíveis aos demais. São apertos. Um leve pode ser “olhe pra mim” ou “olha pra essa menina sem noção combinando short amarelo rasgado só de um lado com uma bata verde abacate com bolinhas roxas” ou alguma coisa do gênero.

Um aperto mais pesado é repressão certa. Alguém discordou de alguma coisa dita ou de alguma cena presenciada. Pode também ser medo de uma situação ou pode também ser coisa boa: alegria, excitação. Outra: a mão dada é um atalho para um abraço ou um beijo: você puxa e pronto, tudo certo.

Basta uma primeira vez e tudo fica bem mais fácil. Aquele começo tímido ou vigoroso não importa, importa mesmo é o agora. Quando ando de mãos dadas com minha mulher sinto que posso mudar o mundo. Sinto-me mais forte, maior, mais capaz, um super-homem. Por qual razão andar de mãos dadas? Olha, não consigo dizer mais nada, não sei explicar. Acho que, para um casal, as mãos entrelaçadas passam calor, carinho, confiança e confirmam, a todo instante, a vontade de estarem juntos!
=]

sexta-feira, março 16, 2012

Poema para que fiques comigo

O poema
Não rima
De forma alguma
Mas te peço
Escute
Com o coração
Não seja chata
Gramática
Ou crítica literária
Seja apenas
Minha vida
Como sempre
Tem sido
E será
Sempre
Sorria
E fique
(Comigo)
Por toda a
Vida
E a vida
Inteira
Seja sempre
Você
Viva
Bem
Muito
Intensamente
(Comigo)
Ria
Chore
Lute
Perca
Vença
Fuja
Volte
Pra mim
Fique
(Comigo)
E
Sempre
(Comigo)
Meu amor
Minha
Vida
=]

sábado, março 03, 2012

A mulher na mesa do bar

Reparei quando chegou. Veio de mãos dadas com Tristeza, Solidão, Angústia e Desespero. Escolheu uma mesa ao fundo do bar. Chamou o garçom, pediu uma cerveja, tirou os óculos escuros e começou a beber. Fazia pose de grã-fina e beicinho. Não me enganou, sinto o cheiro da amargura de longe.

Eu estava do outro lado do bar, na parte mais escura. Passei ali para beber uma água e descansar as pernas. Mentira, estava mesmo era em busca de alguma história, feito um vampiro à procura de sangue em uma noite qualquer.

Sim, a mulher na mesa do bar começou a beber, e a chorar. Começou numa choradeira silenciosa e, depois, começou a chorar soluçando e tremendo os ombros. Chorava. E chorava. O nariz e os olhos já estavam vermelhos de tantos as lágrimas jorrarem. Dava mesmo era vontade de chegar lá e oferecer ajuda, mas não podia me intrometer na história.

Ela não se importava com a presença de outras pessoas no local, quero dizer, o garçom e eu. Chorava e bebia. Bebia e chorava. E chorava, chorava e chorava. E bebia, bebia e bebia. Do outro lado do bar, comecei a pensar no motivo do pranto, se alguém tinha feito mal a ela ou se ela é quem tinha machucado alguém. Ninguém chora sem motivo, chora?

Motivo clássico: traição. Quando alguém vê uma mulher chorando acredita rapidamente ser a traição o motivo. Ela também poderia ter traído, arranjado outro, e estar arrependida. Não sei. Podia ter morrido alguém. Ou ela comemorava algum nascimento? Poderia ter sido despedida, ou poderia ter arranjado um novo emprego.

O velho aparelho de som do bar começou a funcionar misteriosamente. O garçom me olhou gesticulando um “não tenho nada a ver com isso”. O som, que cortava o silêncio como uma recusa de casamento corta um coração, era a poesia pura e mística dos versos “eu vou tirar você desse lugar...”. Ela levantou a cabeça, parou, escutou e começou a chorar copiosamente e originalmente. A mulher mais parecia uma fonte de praça a jorrar lágrimas.

Pensei em outros motivos. Poderia ter batido o carro ou moto, quebrado uma TV, computador ou a cara. Poderia ter sido reprovada da cadeira de cálculo da faculdade ou na monografia. Poderia ter acabado de ver o final da novela ou ter acabado de ler um livro. Poderia ter brigado com alguém por conta de um motivo banal, coisa comum.

Ela parou de chorar por um momento, limpou as lágrimas e tentou arrumar os loiros cabelos de raízes negras. “Minha deixa”, pensei. Levantei e fui caminhando em direção a ela. O garçom me olhava apreensivo. Fez um aceno com a cabeça, como se eu não fosse mais voltar, e ele poderia estar certo.

Cheguei e ela colocou os tristes olhos castanhos em mim. Coloquei a mão no ombro dela. Olhei no escuro dos olhos, no abismo dentro de todos nós, e compreendi. Nunca poderia compreender. Acenei afirmativa para ela com a cabeça. Coloquei o chapéu e fui embora, debaixo de uma fina chuva que começava. Pensei: “Quem mais chorará essa noite, além da mulher na mesa do bar?”. Nunca poderia saber...
=]

terça-feira, fevereiro 14, 2012

O flerte

Certa vez, olhando o tempo passar e relembrando cantigas e fatos da infância, comecei a reparar em um casal na esquina. Percebi que eles estavam em um dos momentos mais interessantes de se observar: o flerte. Ah, como é bom presenciar o flerte, a paquera, a conquista. Os gestos, olhares, sorrisos, postura... Enxergo, aí, toda uma magia, graça e poesia.

Existe aquela conquista tímida, uma falta de jeito para falar, de como chegar. Um medo de falar uma besteira e ser mal-interpretado. Mãos suadas, sorrisos tímidos. Aí o flerte parece mais engraçado, principalmente quando são dois tímidos. É preciso, ás vezes, um empurrão do escurinho do cinema para tudo acontecer.

O momento do flerte é quase uma dança, dependendo do casal, claro. Cada um usa o que tem de melhor: olhar penetrante, sorriso hipnótico, rosto inocente, ou libidinoso, caras e bocas que vão se alternando feito um balé nunca antes ensaiado e belíssimo de se ver.

Durante a dança, um movimento pode definir tudo. Uma mão no cabelo, no rosto, na cintura, um cheiro, uma leve puxada para perto... E enquanto uns utilizam cantadas ensaiadas ou pesquisadas na internet, outros adotam as mais diversas táticas. Fazendo graça, ou tipo, vão ganhando terreno a cada palavra, cada movimento, como quem não quer nada, mas querendo tudo.

No meio do flerte, depois de observar durante vários anos e conversar com muitas pessoas, fiz uma descoberta: existe o momento X, batizado por mim e que antecede o provável primeiro beijo. Aqui eu não me refiro aos beijos distribuídos à torto e à direto nessas baladas. Assim não tem graça nenhuma...

O momento X é especial. O olho no olho, coração batendo mais forte, o sorriso que não cabe na boca, cheia de vontade, ou entreaberta, esperando, estudando, leves movimentos com a cabeça em direção ao outro (a)... Eis o momento da criação de um relacionamento. Ou não. Há relatos de pessoas que não sobreviveram a um desses momentos depois de não ganharem um beijo. No entanto, as que conseguiram, nada dizem, apenas sorriem bestamente.

Ás vezes, uma pequena hesitação, faltando poucos milímetros, como quem está se decidindo o melhor jeito, ou se vai ou não, só faz aumentar a vontade. Como é bonito o momento do flerte, ah, como é bonito...

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terça-feira, janeiro 31, 2012

“Você é um anjo bom”

Esses dias de chuva me deixam mais saudosista e reflexivo. Fico a lembrar da infância. Quando chovia, havia sempre a possibilidade de ficar em casa. “É, está chovendo muito forte, melhor você ficar em casa”, dizia minha mãe. E eu e meus irmãos virávamos a casa de pernas pro ar. Depois de uns gritos, chineladas e promessas de castigo, tudo voltava ao normal.

Ainda na faculdade, chuva significava a mesma coisa. “Professor, chovia forte demais e não consegui sair de casa”, e ele aceitava sem problemas. Em casa, aproveitava para arrumar as coisas e estudar, em cinco minutos. No tempo restante, ficava na janela a olhar a chuva cair e colocava o braço pra fora só para sentir a água. Voltava para debaixo do edredon e começava a sonhar acordado.

Já hoje em dia, chuva ou sol significam a mesma coisa: trabalho. Ontem foi um dia diferente. Até tentei sair de casa mais cedo, mas não consegui. Ao chegar na porta de casa, percebi que não conseguiria nem ao menos atravessar a pista: tudo alagado. Ou o vira-lata do vizinho estava sendo carregado pela correnteza, ou ele estava aprendendo a nadar de uma maneira bem radical.

Depois de uma suavizada, fui pegar o coletivo. A pior parte desses dias é o acessório extra: o guarda-chuva. Sou atrapalhado por natureza e essa bagagem a mais só complica. Sempre ficava todo molhado por demorar a abrir o guarda-chuva ou por acabar esquecendo em algum lugar.

Hoje, depois de alguns anos de treino, estou mais profissional. Tenho um pretinho básico, tamanho P, suficiente para mim e para uma carona, embora os dois fiquem um pouco molhados. Só o fato dele caber na mochila já está bom demais.

Ah, o acontecimento diferente, não é? No mesmo ônibus, subiu uma senhora, companheira de outras viagens. Certa vez, ajudei-a com as compras de supermercado. Um obrigado e nada mais. Dessa vez foi diferente. Ela estava sem guarda-chuva. Eu não. Ofereci carona e lá fomos nós rumo ao desconhecido, pelo menos pra mim.

Durante a caminhada, ela me explicava os perigos das calçadas molhadas para as pessoas de certa idade. Calçadas altas, destruídas, armadilhas para os mais velhos. Além disso, ela me explicou a diferença entre catarata e glaucoma e os benefícios da hidroginástica. “Já não ando com a vista boa, meu filho”. “Não seria melhor alguém acompanhar a senhora na hora de ir e voltar da hidroginástica?”. “Até seria, mas minha sobrinha não tem tempo. Quando não está estudando, ela... Ela não tem tempo...”.

Caminhamos uns bons quinze minutos, com ela apoiando-se em meu braço, até chegarmos ao condomínio de casas fechadas onde ela mora. “Aqui já dá, agora é só chegar em casa e tá tudo bem”. “Mas a senhora vai se molhar”. “Não tem problema, eu troco de roupa ao chegar em casa”. “Dona Rachel, não saia nessa chuva não! Valeu pela ajuda, amigo!”, gritou o porteiro.

“Não foi nada, não há de quê. A senhora tem certeza de que não quer uma carona até a porta de casa?”. “Muito obrigada, meu filho. Você nem imagina quão grande foi sua ajuda, e não só pela proteção da chuva e apoio. Você é um anjo bom”. Sorri. E comecei a pensar que eu ainda posso ser uma boa pessoa...
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domingo, janeiro 22, 2012

Seres estranhos no meu jardim

“Você não pode conhecer o mundo antes de conhecer a si próprio” (Baltus)
“Isso é besteira. Não liguem para o que o Baltus diz” (Altus)

Aconteceu na madrugada de ontem. Eu e minha mulher preparamos um jantar para um casal que não víamos há tempos. Eles viajaram pela América Latina durante alguns anos. Ele, fotógrafo, ela, antropóloga. Uma noite bem animada, com muita comida e histórias curiosas sobre os mais diversos povos.

Para fechar a noite, oferecemos um dos nossos melhores vinhos. Eles, uma bebida preparada por eles mesmos. “Fizemos esse chá misturando receitas de diversos povos”, ela disse. “É forte, mas é muito gostoso e nos passa ótimas sensações”, finalizou.

No momento, senti mesmo só um calor e uma vontade de rir. Passamos uns bons momentos rindo de qualquer besteira. De repente, passou. Despedimo-nos e eles foram embora. Começamos a dormir por volta de meia-noite e, quando foi lá pelas três e pouco, acabei acordando por conta de uns barulhos estranhos. Tal qual o pessoal inocente (corajoso? ingênuo?) de filme de terror, fui investigar.

Caminhei em direção ao gramado dos fundos com uma vassoura na mão. Abri a porta da cozinha e deparei com uma cena bizarra e fantástica. Dois seres estranhos brigavam no meu jardim. Pequenos, feios e se xingando em português. Isso, português. Pareciam anões ou gnomos de jardim, sendo que bem sujos. Para mim, pareciam pequenos demais para anões e feios demais para humanos.

Eles pararam de lutar e olharam pra mim. “Olhe, Baltus, é ele!”, “Eu vi, Altus, não sou cego”. Esfreguei os olhos e me belisquei para ver se acordava desse sonho maluco. Nada. Vieram em minha direção e disseram: “Ó, grande guerreiro escolhido por Gartthyne, Deusa das Deusas, estamos aqui para te levar ao nosso mundo, para que libertes nosso povo”.

Eles falavam bem sério, ajoelhados. Com um tipo de espada ao lado de cada um. “Grande guerreiro, precisamos ser rápidos. O Senhor do Mal, Artelikon, massacra nosso povo há tempos e já estamos pertos da extinção. “Como posso ajudar?”, perguntei.

Pela descrição deles, moravam em um lugar muito bonito, com lagos, montanhas, campos, florestas e tudo mais. No entanto, a maior parte das tribos foi escravizada pelo carinha do mal. De acordo com a descrição, esse Artelikon parecia uma mistura do Coringa com o Gargamel e o Darth Vader... De arrepiar...

Baltus disse que eu precisava pegar a Espada do Sol Ardente, encontrada em algum lugar da Caverna do Medo, para sobrepujar a Espada da Noite Mais Feroz. Para chegar lá, precisaria atravessar a Floresta dos Últimos Guerreiros, o Lago dos Enganados e escapar das armadilhas do Povo Sem Honra. Isso, disse-me Altus, sem contar as criaturas mágicas que eu poderei encontrar pelo caminho, como dragões, vacas curandeiras, ursos das sombras e outras.

Se fosse um sonho, iria com o maior prazer, mas como parecia bem real, disse: “Olha, sou só um cronista, e não o Frodo ou o Harry Potter. Gostaria muito de ajudar, contudo, não sei como”. “Você é o escolhido”, disse Altus. “Só você tem o poder”, completou Baltus. Então eles começaram a se multiplicar. Em segundos, havia dezenas deles. Quando partiram para cima de mim, derrubei todos, rapidamente, usando só a vassoura.

“Vês? Tens o poder. Vamos agora”. Os dois me puxaram pelo braço e começaram a correr em direção aos fundos do jardim. “Coma esta semente, rápido!”, e me jogaram em um buraco negro. A sensação não foi das melhores. Quando abri os olhos, dei de cara com um lugar que parecia muito o Interior do meu estado. Muito verde, lagoas e montanhas.

De repente, a terra tremeu e tudo ficou escuro. Acordei aos gritos: “Acorda, amor! Acorda! Como você foi parar dentro da lata do lixo?”...
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terça-feira, janeiro 10, 2012

Sonho

- Pois é, e acredita que ontem eu até cheguei a sonhar contigo e aí...
- Não!

- Como assim “não’?
- Não, não e não. Mil vezes não. Você não pode sonhar comigo.

- Posso, posso sim.
- Não, você não pode.

- Olha, deixa de neura, tá? Foi só um sonho e isso não quer dizer nada. Continuamos amigos e pronto, nada fora do comum.
- Não, você não pode sonhar comigo, eu não deixo.

- Você enlouqueceu? Desde quando você manda nos meus sonhos?
- Eu só sei que isso não é certo, você não pode ficar sonhando comigo.

- Olha, seguinte, eu não ando sonhando contigo, eu sonhei apenas uma vez. Presta atenção: não foi minha intenção, tá bom?
- Certo, desculpa. Desculpa.

- Então... quer saber como foi o sonho?
- Não!

- Ah, deixa de ser besta! Foi só um sonho e um sonho não quer dizer nada.
- Mas e se não tiver sido só um sonho?

- Hã? Como assim?
- E se você tiver visto alguma coisa que ainda vai acontecer?

- Que história! Isso não existe! Isso é lenda, não tem como acreditar nessas coisas. Como posso sonhar com o que ainda vai acontecer? Isso não existe!
- Quem garante? E se você tiver sonhado com o futuro?

- É disso que você tem tanto medo? Do futuro?
- Eu não tenho medo do futuro, eu apenas não quero saber agora.

- Medo.
- Não é medo. Só não quero saber.

- Por qual razão tu tens medo do futuro?
- Eu não tenho medo do futuro...

- Ah, então, entendi. Tu tens medo de estar no futuro comigo. De estarmos juntos no futuro, não é?
- Olha, vamos para com essa conversa sem futuro. Não quero mais falar sobre isso...

- A gente estava na igreja, indo em direção ao altar. Foi com isso que sonhei...
- Meu Deus, eu tive esse mesmo sonho! Incrível! Sonhei que a gente casava! Quanta coincidência! Não pode ter sido só um sonho. Deve ser o destino!

- Mas você mesma disse nesse instante...
- Olha, esquece. Seguinte: eu te amo. Vamos ficar juntos e concretizar logo esse nosso sonho conjunto. Já que sonhamos com o futuro casamento, vamos logos ficar juntos e fim de papo!

- Eu sonhei que estávamos indo em direção ao altar, mas era só para a cerimônia de Primeira Comunhão...
- Ah, foi? Ah, tá...
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terça-feira, janeiro 03, 2012

Novo ano

“Um ano passa rápido, até se confunde com outros anos. Passa devagar, parecendo ser mais de um ano. Um ano é um tempo tão estranho que, ás vezes, nem sabe se ainda tá valendo ou se já acabou. Tem ano que não quer acabar, quer ser eterno. Um ano, ás vezes, se envergonha tanto, pede até pra ser esquecido. Um ano é tempo, tem tempo que não é um ano, e nós estamos no meio, controlando e sendo controlados e ficando descontrolados”.

Eu espero que esse ano vindouro (ou nós que chegamos até ele?) não seja perfeitamente novo demais. Quer dizer, quero coisas novas, certo, mas também quero outras iguais. Mudanças, permanências e melhoras. Como eu vou saber a diferença? Oura, questão de parar e pensar...

Por exemplo, desejo fazer exames médicos, sempre deixados de lado, e quero continuar com a mesma boa saúde. Espero contar com minha família e meus amigos por perto, e se isso for melhorar, sem problemas. Pretendo continuar trabalhando na minha área, ganhando dinheiro e juntando um pouco para projetos futuros. Eu vou lutar para ter um ano e um futuro melhor. Sabe, tenho vontade de agarrar esse novo ano, dar um abraço bem forte nele e dizer: bem vindo, seu danado!

Quando eu era jovem, o ano começava sempre assim. Acordava e dizia: “Este vai ser o ano da revolução”, o que para mim era super simples: vestibular, carteira de motorista, formatura, estudar mais, rever amigos, escrever mais, cuidar mais da saúde, arranjar um trabalho... Nunca foi nada extraordinário, mas, ainda assim, achava o máximo. Nunca havia parado para pensar nas conquistas. Para mim, nunca houve revolução alguma.

E, hoje, vejo o quanto estava enganado. A revolução é cotidiana, quase invisível. Muito do que eu disse deu certo, embora não ao mesmo tempo e na mesma época. Cresci, um pouco, mas cresci. Melhorei em alguns aspectos e ainda tenho muito que melhorar. Sigamos em frente, vencendo, chorando, perdendo, sorrindo, lutando, sempre. Afinal, se alguém conseguir tudo de uma vez, qual vai ser a graça?
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