Traduzindo

sexta-feira, novembro 21, 2008

Esperando no portão

Já passava do meio-dia, hora de ir embora, hora de sair para comer. Depois de uma manhã de trabalho cansativa, nada como sair do escritório para comer alguma coisa e descansar um pouco, conversando com os colegas e amigos ou apenas pensando na vida.


Ia descendo as escadas - não gostava de esperar pelo elevador, que sempre vinha lotado, andava fugindo dos apertos, no bolso, nas roupas, nos espaços - enquanto pensava sobre o que iria comer. Depois de bater o ponto, olhou rapidamente por entre as portas de vidro e parou como se acabasse de bater em uma outra porta de vidro.


Lá estava ela, esperando no portão. Não consequia acreditar no que via. Estava lá, parada, olhando o movimento tal qual princesa no alto da torre. Os cabelos pretos, fortes, amarrados em um rabo-de-cavalo, do jeito que ele mais gosta. Uma calça jeans, simples, chinela rasteira e uma bolsa preta. Sim, uma camisa branca, não apertada, como aquelas da primeira comunhão. E, como sempre, deveria estar muito bem perfumada. Com um daqueles perfumes ótimos ou então com aquele cheiro bom de quem acabou de sair do banho.


E lá estava ele, parado dentro do prédio contemplando aquela mulher. Todos iam saindo e ele não conseguia sair do canto. Estava imóvel e vazio. Não conseguia pensar em nada, apenas olhar. Até que decidiu se movimentar. Começou a olhar o próprio relflexo, bem fraco, na porta de vidro. Será que estava bem arrumado? Se não, pelo menos vestido de forma decente? O que ela iria achar se o visse daquele jeito? Estava cheiroso? Com o ar-condicionado da sala quebrado e o calor que fazia era difícil não ficar pelo menos um pouco suado.


Ela pareceu impaciente por um instante. Quanto mais iria ficar esperando? Já estava ali há muito tempo? Era preciso se mexer.Então, ela olha para dentro do prédio, para a porta de vidro, com uma visão de raio laser que o paralisa novamente. Não consegue vê-lo, mas faz ele parar para pensar novamente.


Depois de uma rápida consulta na memória, lembrou que uma vez lhe disseram que quem hesita, perde. A mulher no portão olhou as horas em seu relógio de pulso. Quanto mais tempo iria esperar? Ele não iria mais ficar parado. Abriu a porta e foi andando na direção dela.


Enquanto ela parecia despreocupada olhando o movimento dos carros e passantes, nos poucos metros que os separavam ele começou a se preocupar com o que iria dizer. E agora mais essa, o que iria dizer? Não podia falar qualquer coisa, mas também não poderia parecer nervoso. Tinha que agir naturalmente, pelo menos tentar.


Foi chegando mais perto e ela olhou mais uma vez para o relógio e virou o rosto. Olharam-se. E ele passou direto e ela continou esperando no portão. Não conhecia aquela mulher. Nunca a tinha visto. Mas a julgar pela aliança dourada que possuía, começou a imaginar que uma dia queria ter a sorte daquele que possuía o outro par. E pensou que gostaria de ser o par daquela mulher esperando no portão...

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sexta-feira, novembro 07, 2008

Segredos revelados

Segredos revelados

Minha doença é crônica, admito. Doença não, mania. Mania não, mal hábito. Essa história de deixar tudo para última hora nem sempre tem final feliz. Costume cultivado desde pequeno. Do fundamental ao médio. Do médio à faculdade. A desculpa era a de que o trabalho de última hora era mais emocionante de fazer, assim tinha a oportunidade de conhecer a pressão que os jornalistas sofrem para entregar o texto. Mas, se essa é a desculpa atual, qual era a desculpa dos tempos de criança?

Bom, o que passou, passou. Estamos em outros tempos. Outros trabalhos para entregar, como esta crônica, por exemplo. Disseram-me que fazer uma crônica era algo simples. Gostaria de saber quem disse isso. Não há formular prontas, nem o lead existe, então por onde começar? Vamos tentar. Como dizia aquele sujeito mexicano e colorado: “Sigam-me os bons”.

Acredito que o primeiro passo seja escolher um tema, não começar sem saber para onde ir como estou fazendo. Alguns dizem que à medida que você vai escrevendo, a crônica vai saindo, lógico. Bem, prefiro escolher um tema antes de tudo. A originalidade é algo muito preocupante. Muitas pessoas escrevem crônicas, então, com certeza você pode estar escrevendo algo que alguém já escreveu. Mas acredito ser a crônica uma visão muito pessoal do mundo ao nosso redor. Influências existem claro, é muito ruim você começar do nada, sem ter lido pelo menos uma crônica antes.

Bem, depois de ler algumas crônicas, tenho algumas idéias para começar. Já que estava falando de desculpas, penso em escrever sobre as mentiras que os homens contam. Tenho certeza que será sucesso. Poderei até inscrevê-la em um concurso de crônicas, ou até mesmo colocá-la em algum livro. Pensando bem, acho que já fizeram isso, deixa pra lá, nem era um tema tão bom assim mesmo.

Posso falar de quando estava aprendendo a falar uma língua estrangeira. Foi um pouco difícil, mas eu consegui, aprendi a falar e a escrever essa nova linguagem. Estou até pensando em escrever a crônica nessa língua nova. Javanês, já ouviram falar? Não? Bem, então vamos deixar de lado, não ia dar certo mesmo.

Falarei de minha infância, de quando tinha meus oito anos. Bons tempos, acredito que dá até pra escrever uma lira sobre meus oito anos. Não, melhor não. Nem lembro bem de meus oito anos, confundo com os nove e dez anos. Poderia escrever sobre o tempo que brincava no engenho dos meus avós. Para lembrar disso não preciso saber a idade certa, são apenas lembranças. Era um menino de engenho, sim, tenho certeza, bons tempos. Pensando melhor, mudarei de tema, o engenho foi destruído e agora prefiro deixá-lo no passado.

Falarei sobre meu pinto. Sim, muitos tiveram um pinto quando criança. Alguns eram muito ruins para com os pintos. Não cuidavam, apenas judiavam do bichinho. Conheço alguns que colocaram o pintinho no liquidificador. Maldade. Isso não se faz. Meu pinto era manco. Pendia pro lado esquerdo. Triste fim de meu pintinho. Morreu na quaresma, lembro bem. Foi ciscar muito rápido, caiu, bateu a cabeça e depois as botas. Melhor nem lembrar dessas coisas. Em respeito à morte dele vamos deixar o pinto de lado e falar de outra coisa.

Chega de histórias tristes. Não que seja muito ruim lembrar certas histórias, mas gostaria que as pessoas que lessem essa crônica lembrassem de algo bom. Queria conta uma história engraçada, mas essa é mais difícil. Não é todo mundo que consegue ser engraçado. Alguns apenas passam vergonha querendo ser engraçados. Prefiro nem tentar. O meu desespero em acabar a crônica me impede de dizer algo engraçado.

A verdade é que meu tempo está acabando. Mania feia, devia ter mudado esse hábito. A música estava certa o tempo todo, pau que nasce torto nunca se endireita. Devia ter planejado tudo antes mesmo. Esse negócio de ser contra minha natureza não cola mais. Fui enganado. Crônica não é nada fácil. Disseram que quando eu menos percebesse a folha já estaria completa, que nada! Parece que quanto mais eu escrevo mais a folha vai aumentando o tamanho, esticando-se, parece não ter mais fim.

Confesso, estou mais perdido que cego no meio de tiroteio, que filho da puta em Dia dos Pais. Não sei mais nem que dia é hoje. Apenas sei que não adianta mais eu ficar aqui querendo enrolar, é melhor começar a pensar em algo, em algo de preferência bom. Acho melhor desistir. Sinto muito professor, não me vem nenhuma idéia à cabeça. Acho melhor eu ir ler algumas crônicas e depois voltar. Vou fazer outro texto pra entregar depois, por enquanto vou dizer que o cachorro comeu meu texto. É, esse seria um bom tema para uma crônica.

Crônica feita em 2005, para a cadeira de Opinião no Jornalismo - o nome não é esse não mas é porque não lembro do nome original. Tenho carinho enorme por essa crônica, minha primeira feita conscientemente, eu acho eheheheh. Acho que a Lorena lembra dela também. Era o terceiro semestre, eita negócio pra passar rápido...
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