Traduzindo

segunda-feira, setembro 19, 2011

Recorte

Eu sei que já está virando rotina, mas vim pedir desculpas pela ausência. Tempo corrido, memória fraca, acho que estou ficando velho... Brincadeira, deve ser só cansaço ou preguiça, sempre me confundo com os dois. Vim apenas mostrar recortes do dia de hoje e deixar a seguinte mensagem: a poesia está em todo lugar. Sinta-a.
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Entre 8h e 8h03

Gostaram do estilo, do jeito e sorriso. Gostaram, todos os espécimes masculinos apertados dentro do coletivo urbano. Tal qual sardinhas, numa caixinha de fósforo. Ela desceu e foi acompanhada por todos os olhares. E, com certeza, por pensamentos e suspiros mais. O ônibus estava parado por conta de um semáforo. Ela aproveitou a parada para descer do coletivo e já ia caminhando quando tudo aconteceu. O vento, matreiro, tratou de tentar levantar a saia.

Ela, delicadamente, tentou segurá-la com uma mão. Com a outra, fez um gracioso gesto para tirar uma loira mecha de cabelo da frente da face. E sorriu. E todo o sol parecia ter saído do céu e se alojado em sua boca. Como brilhava! O momento não passou em branco por parte da torcida.

- Senhora, não vá embora!
- Senhora, podes ir, mas leve-me contigo!
- Dona, devolve a minha razão e meus pensamentos.
- Moça, por favor, devolva os meus olhos que insistem em te seguir!
- E aproveita e devolve o meu coração, gritou outro, mais afoito.

A moça, tímida, sorria sem jeito e sem saber o que fazer. Ficou de olhos baixos, torcendo para o ônibus seguir. E todos ficaram a admirar a jovem, como se hipnotizados por tanta beleza. O sinal abriu. Desespero.

- Motorista, não toca ainda não.
- Seu motorista, espera mais um pouquinho.
- Meu sinhô, dois reais pra ficar mais um minuto.
- Um pacote de biscoito e uma maçã por mais dois.
- Deixa que eu dirijo, moço, peraí.
- Agüenta aí, seu dirigidor, que um negócio desses a gente só vê no cinema.

E o motorista, indiferente aos apelos emocionados, passou a marcha e se preparou para sair. Desespero. Tristeza. Angústia. Naquele momento, todos aqueles homens sentiram-se como marinheiros partindo de sua cidade natal. E o pior, sem ninguém para dizer adeus...

A mocinha de cabelos cor de trigo apiedou-se e decidiu retribuir tanta admiração. Fez um aceno com a mão, como que dizendo um acanhado tchau. Gritos de alegria! Alívio. Agora sim, tudo estava bem. E o ônibus pôde zarpar naquele rio de asfalto, e todos carregavam dentro de si a certeza de um dia melhor...
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sexta-feira, setembro 02, 2011

Papo maluco, versos brutos

A gente segue na luta
Diária
Se for preciso
A gente chora
A gente ri
A gente canta
E não perde o molejo
Mantém o desejo
Mas se for preciso
A gente até foge
Mas a gente não finge
Ser
O que não somos
E o que nós somos mesmo?
E isso nem importa
O que importa mesmo
É que tudo importa
Mesmo sendo contraditório
Tudo isso agora
E tudo isso depois
Porque importante mesmo é ser feliz
É ser criança e brincar de adulto
E ser adulto e lembrar que um dia foi criança
E tentar ser sincero, não só com os outros
Mas consigo mesmo
Que isso é bom
Pra gente e pra todo mundo
Que nem é o mundo todo
Esse todo mundo
Porque se todos fossem iguais
Todos iriam querer ser diferentes
Não em tudo, não todos
Mas pra quê tem gente com tanto
E outros com tão poucos?
E se eu disser que eu quero mais
Disso tudo e de você?
E se eu disser que eu te amo e
Que vamos passar a vida toda juntos?
E eu tava conversando com todos
E agora eu não consigo parar de pensar em ti
E agora queria dizer, pra todo mundo, de novo
Que não adianta ficar e fingir
É melhor fugir
Evoluir
E admitir derrota
Bem melhor do que passar a vida
Fantasiando
Vivendo lorotas
E assim termino mais um poema
Maluco
Com tantos versos bons perdidos
E esses aqui, largados
Em estado bruto
=]