Traduzindo

quarta-feira, julho 30, 2014

Quando perdemos a copa

A parada de ônibus é um dos meus lugares preferidos, ás vezes. Como não vejo mais os jornais televisivos, me informo por lá. Fico sabendo dos mais diversos fatos, do futebol à astronomia, da história do mundo à do bairro, e por aí vai.

Durante a Copa do Mundo de futebol, até antes, fiquei impressionado com as conversas. Somos todos técnicos, claro, mas a competição vai além de sistemas táticos e preferências por jogadores.

Em comum, todos queriam tirar o atacante Fred. Alguns gostavam do Neymar, outros não. Falaram também da bunda do Hulk e um pouco sobre alguns jogadores, como o gol contra do Marcelo e a chance do Júlio César se redimir do erro da Copa de 2010.

Nelson Rodrigues ficaria feliz, se vivo estivesse, ao perceber o amor do grupo ali pela seleção canarinho. Assim como o escritor um dia falou, eles também defendiam a canarinho como a pátria em calções e chuteiras. O brasileiro naturalizado espanhol Diego Costa era “um traidor da pátria”. Ninguém comentou nada sobre outros jogadores brasileiros defendendo outras seleções ou mesmo o fato do Felipão ter treinado Portugal. Tudo bem.

Depois da Copa, incluindo as derrotas para Alemanha e Holanda, todos tentaram apontar erros e culpados. Cada cabeça é um mundo e pude reafirmar essa certeza com os comentários daquela manhã de sol forte:

- Perdemos quando o Neymar se machucou. Metade do time - ou mais - foi embora naquele momento.

- Acho que perdemos quando retiramos famílias de suas habitações em nome da Copa e do “progresso”.

- Quando anunciaram o Bernard no ataque, não tive dúvida: já era!

- Pra mim, perdemos quando não cumprimos os prazos para as obras civis, as de mobilidade urbana. Não teremos legado.

- Quando tomamos aquele primeiro gol, em falha de marcação grotesca, sabia que não tinha mais volta.

Eu ainda não havia dito nada, só escutava. Costumava ficar calado, pra não me estressar logo de manhã. Antes de falar, falaram algo que me fez parar para refletir:

- Perdemos por muitos motivos, antes mesmo da Copa começar até quando não tivemos um perfil tático e escalamos mal, mas perdemos mesmo quando trocamos o #somostodosmacacos pelo #sóocaraquemachucouoneymarémacaco...


E continuei calado.