A parada de ônibus é um dos meus lugares preferidos, ás
vezes. Como não vejo mais os jornais televisivos, me informo por lá. Fico
sabendo dos mais diversos fatos, do futebol à astronomia, da história do mundo
à do bairro, e por aí vai.
Durante a Copa do Mundo de futebol, até antes, fiquei
impressionado com as conversas. Somos todos técnicos, claro, mas a competição
vai além de sistemas táticos e preferências por jogadores.
Em comum, todos queriam tirar o atacante Fred. Alguns
gostavam do Neymar, outros não. Falaram também da bunda do Hulk e um pouco
sobre alguns jogadores, como o gol contra do Marcelo e a chance do Júlio César
se redimir do erro da Copa de 2010.
Nelson Rodrigues ficaria feliz, se vivo estivesse, ao
perceber o amor do grupo ali pela seleção canarinho. Assim como o escritor um
dia falou, eles também defendiam a canarinho como a pátria em calções e
chuteiras. O brasileiro naturalizado espanhol Diego Costa era “um traidor da
pátria”. Ninguém comentou nada sobre outros jogadores brasileiros defendendo
outras seleções ou mesmo o fato do Felipão ter treinado Portugal. Tudo bem.
Depois da Copa, incluindo as derrotas para Alemanha e
Holanda, todos tentaram apontar erros e culpados. Cada cabeça é um mundo e pude
reafirmar essa certeza com os comentários daquela manhã de sol forte:
- Perdemos quando o Neymar se machucou. Metade do time - ou
mais - foi embora naquele momento.
- Acho que perdemos quando retiramos famílias de suas
habitações em nome da Copa e do “progresso”.
- Quando anunciaram o Bernard no ataque, não tive dúvida: já
era!
- Pra mim, perdemos quando não cumprimos os prazos para as
obras civis, as de mobilidade urbana. Não teremos legado.
- Quando tomamos aquele primeiro gol, em falha de marcação
grotesca, sabia que não tinha mais volta.
Eu ainda não havia dito nada, só escutava. Costumava ficar
calado, pra não me estressar logo de manhã. Antes de falar, falaram algo que me
fez parar para refletir:
- Perdemos por muitos motivos, antes mesmo da Copa começar
até quando não tivemos um perfil tático e escalamos mal, mas perdemos mesmo
quando trocamos o #somostodosmacacos pelo #sóocaraquemachucouoneymarémacaco...
E continuei calado.
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