Traduzindo

sábado, abril 30, 2011

Experiência

Eu acho legal essa história de experiência, no geral mesmo. E esses dias eu percebi que nem sempre isso significa uma coisa legal. Alguns motoristas, por exemplo, de tão experientes dão-se ao luxo de desrespeitar as leis básicas do trânsito. São tão “bons”, não se preocupam com mais ninguém e acabam trazendo mais problemas ao trânsito em geral.

Experiência é um negócio muito relativo. Você é experiente? Em qual atividade mesmo? Fazendo que coisa? Eu sou experiente no raxa lá do prédio, jogo com pessoal desde criança. E sou inexperiente em alpinismo, nunca escalei monte nenhum, só os de folhas no quintal ou de roupas sujas prestes a irem para a máquina de lavar.

Eu tenho muito experiência também em ser carona, não motorista. E é uma larga experiência. Comecei na barriga da minha mãe, quer dizer, antes, com meu pai, mas sem entrar em detalhes por conta dos mais jovens. Ou então foi a cegonha, né? Deixa pra lá. Passei para o carrinho de bebê, no qual eu inocentemente acreditava ter o controle. Passei por experiência engraçadas, como o carrinho de compras no supermercado, mas eu gostava mesmo era de estar nos braços dos meus avós, nos da mãe e na cacunda do pai. Ali sim eu estava no auge. Passei para os carros, ônibus e táxis e recentemente e lentamente vou passando para a perigosa vida de motorista. Um dia eu vou ter experiência, estou ganhando aos poucos.

Eu gosto de conversar com esse pessoal que tem experiência nos diversos campos. Será que é tudo verdade? E isso importa? Pra mim, não. Pode ser um senhor sobrevivente da Guerra do Paraguai ou uma senhora a contar como atravessou o Mar Vermelho, nem importa, eu gosto é de escutar as histórias. Quem me conhece sabe o quanto eu gosto de conversar, e tão bom quanto conversar com os experientes é conversar com os mais parecidos comigo. Inexperientes. Esse pessoal com muita curiosidade, sede de saber, de conhecer, de aprender por meio de histórias e de perguntas aparentemente inocentes. Eu gosto de conversar com perguntas que contrariam o senso comum.

No entanto,o que me fez pensar sobre a experiência não foi o fato de conversar ou o trânsito, nada disso. Esses dias, lá no trabalho, uma mãe contava da tristeza da filha. “Até faltou o colégio”. O motivo? Acabou-se o namoro. Ela contava entre triste e achando um pouco de graça por não saber como lidar com a situação. Como estávamos todos com os trabalhos adiantados, instalamos inconscientemente uma roda para discutir o assunto, foi quase um Conselho Jedi dos Relacionamentos.

Eu estava entre os mais novos e os conselhos foram variados. “Diz pra ela ir poderosa no outro dia pra ele ver o que perdeu”, “manda ela fazer amizade com o inimigo dele” e outros mais vingativos. Disseram que ela não se preocupasse, pois ainda iria namorar muito, com um amor se esquece outro e o tempo cura. Acho que ela não queria escutar isso. Acredito, inocentemente, que ela não gostaria de escutar tais conselhos, ainda mais, vindos de pessoas, em sua maioria, com mais de 40, 50 e até 60 anos. Conselhos de pessoas diversas, hétero e homoafetivas, velhos, velhas, senhoras solteiras e casadas, jovens separadas, jovens casados, compromissados, enfim, pessoas diversas.

Ela só queria mesmo chorar, tenho certeza, e outra coisa mais que não ousei falar. Limitei, na minha vez no Conselho, a dizer que ela tivesse calma e ver no que pode dar ainda. Tudo tem seu tempo. Embora seja clichê e eu frequentemente repita isso, deve ter um mínimo de verdade. E torcia para que, qualquer que fosse o desdobramento, a jovem ficasse bem.

No outro dia, enquanto todos discutiam a importância do casamento do príncipe inglês para nós brasileiros, a mãe da jovem sofredora contava aos risos. “Pessoal, escuta essa. Ontem eu cheguei em casa e minha filha estava toda alegre falando ao telefone. Estranhei e depois fui conversar com ela”, disse. Alguém consegue adivinhar quem era? Quem disse “é um novo paquerinha” ou “aposto que é o inimigo do carinha lá”, errou.

Era o ex e mais uma vez atual namorado, que havia pedido desculpas e confessando toda a tristeza pelo final do relacionamento e o amor que sentia por ela. E tudo estava bem e os dois jovens ficaram felizes. O pessoal do Conselho estranhou, aposto que estavam torcendo pelo final mesmo “para ela ganhar experiência”.

E namorando quem gostamos e sendo felizes não ganhamos experiência? Duma coisa eu sei, minha torcida secreta para a volta do namoro deu certo. Eu sei, nem sempre é simples assim. Nem sempre volta e é até melhor, vai saber, para os dois. Mas se duas pessoas se gostam e querem estar juntas, eu torço pela união feliz e saudável, contanto que os dois fiquem e se façam bem. Não sei como vai ser a história de amor dos dois jovens, mas esse final feliz me rendeu um sorriso que durou o dia inteiro...
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quinta-feira, abril 14, 2011

Força

Esses dias tu me perguntou se eu era forte, lembra? Eu disse num sussurro que depois te responderia. E agora o faço. Antes de mais nada, um pedido de desculpas pelo sumiço e apresento agora uma das causas. Há duas semanas voltei para a academia, de volta à musculação. Já havia freqüentado a academia durante alguns meses entre 2009 e 2010 por ordens médicas. Ou fazia ou não voltaria a jogar o meu querido futebol. Vamos em frente.

Eu sempre me considerei um grande cronista mental por apenas pensar nas crônicas e nunca as escrever. Sempre tive vontade de escrever sobre o tema academia/musculação, mas nunca a coragem para tanto havia aparecido e agora aproveito o momento. A academia rende estudos antropológicos e psicológicos diversos. Eu não sou estudioso do comportamento humano, apenas mais um entre tantos observadores.

Ali tem gente de todo tipo: marombeiros (as) profissionais, iniciantes, pessoas ali por precisar de alguma atividade física, gente de todo tipo mesmo. Há os loucos pela malhação, por querer levantar cada vez mais peso, os que desejam o corpo “perfeito” - pura estética - e os que seguem ordens médicas, feito eu.

Eu não desejo o corpo do Conan ou do Hulk, nada disso. Sou magro e muito feliz com isso. Já fui gordo e fui feliz e agora me contento com a minha forma. Caso seja possível melhorar alguma coisa, tudo bem, caso não, sem problemas. Eu estou lá mesmo para fortalecer a musculatura do joelho direito e poder voltar tranquilamente ao meu futebol. Aquela barriga sarada e aqueles braços fortes não são meus objetivos. Vou tentar, eu acho, com a minha conhecida “coragem”. Se conseguir pelo menos diminuir a barriga e deixar os braços menos finos, beleza, lucro. No entanto, a força que eu quero e sempre pensei pra minha vida eu ainda não sei se é possível conseguir apenas com a academia.

Pensei bastante em como utilizar essa força toda. Como esse pessoal paga para levantar tanto peso e não faz nem ideia de onde usar essa força? Como se contentar apenas com estética? Bom, não os julgo mal, cada um faz o que quer. No entanto, a minha força não é só pra mim e espero que não seja nunca.

Eu quero mais força para ajudar a levar as comprar para casa, ir deixar o lixo sem sofrer tanto com o peso, ajudar nas mudanças e a empurrar os carros quando preciso, trocar um garrafão de água ou um bujão de gás e para ajudar em alguma possível emergência na qual a força física seja mesmo necessária.

Eu quero ter a força que não se ganha na academia. Força para dar um ombro amigo, para dar uma ajuda a quem precisar, força no sentido da perseverança e espiritualmente falando. Meu amor, eu quero a força para te carregar nos meus braços e não parecer um fracote sem fôlego e força, mesmo tu sendo leve feito uma pluma. Eu quero ser forte para carregar nossos filhos no braço e para te ajudar e me ajudar também em todos os momentos. Sempre. Essa é a força que eu realmente quero.
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domingo, abril 10, 2011

Sobreviventes

Eu não gosto de me meter na política e na economia, mas é porque elas sempre se intrometem na minha vida e aí eu não posso ficar calado. Tudo no mundo se resume à política e à economia. Se não for em 100% dos casos é em mais, tenho certeza. Na verdade, tudo se refere ao grande, imenso e gigantesco ego do ser humano. Vamos ver.

No Brasil, os sujeitos se elegem prometendo mundos e fundos. Depois de eleitos, um grupo de mágicos (e palhaços? Ou somos nós os palhaços?), todos somem, não deixam o menor vestígio. Ganham muito dinheiro, trabalham pouco e olha que coisa ótima (para eles): acertam os aumentos do próprio salário, que não é pouco. Legal, né? Fora os vários tipos de auxílio, auxílio-paletó, auxílio-moradia... Devem ter também até auxílio-amante, mas ética e preocupação com o povo, zero. Alguns têm, eu sei. Sem generalizar. Estou falando da maioria.

Aqui é assim: dinheiro demais para poucos, dinheiro de menos para muitos. A sorte é que ainda tem muita gente boa nesse mundo. Sorte mesmo. O governo é omisso em vários aspectos. Saúde, educação e segurança são temas correntes em toda eleição, mas depois, puf, não temos nada disso. É uma humilhação diária. Escola sem professor, posto de saúde sem médico e ruas sem policiais. Péssimos salários aos que mais trabalham. Transporte público sem qualidade. O Brasil não tem população, tem sobreviventes.

Hoje em dia é mais fácil você conseguir uma arma do que entrar numa escola, faculdade ou conseguir uma consulta num posto médico. Eu fico triste com tudo isso. Nós vivemos uma guerra civil no Brasil. Olhem o número de morto por ano. Não é digno de guerra?

Mas o Brasil é o país abençoado por Deus, sem vulcões, terremotos, furacões... O problema mesmo é o brasileiro. E a solução para isso tudo é o brasileiro. Lá no exterior tem guerra civil acontecendo na África, Revolução de Jasmim, ditadores caindo, terremotos, gente lutando pela separação, etnias se matando... E por trás disso tudo está um conjunto de interesses. Onde tem petróleo? Onde podemos lucrar mais? A luta é apenas por liberdade? Pela população pode ser, mas por alguns grupos, organizações, países, vai saber...

Esses dias um rapaz me enviou um e-mail pedindo para enviar dinheiro aos japoneses. Eu, bastante controlado como sempre fui, respondi que poderia enviar minha solidariedade, minha fé, meus pensamentos positivos. Mas como enviar dinheiro para um país mais rico que o meu enquanto os filhos da minha pátria ainda morrem de fome? Ainda dormem debaixo de uma ponte ou em favelas e terrenos sem a menor condição de vida? Como enviar dinheiro para uma das potências do mundo enquanto tem pai de família sustentando a família com um salário mínimo? Enquanto ainda os nossos bravos lutam diariamente para manter uma vida digna e não cair no mundo do crime? Como mandar dinheiro para fora enquanto ele é terrivelmente mal distribuído aqui dentro?

E ainda esses dias um rapaz entrou numa escola e ... E vão chamar psicólogos, sociólogos, biólogos, antropólogos e todos os outros logos para explicar isso. E não vão conseguir explicar. Hoje mesmo já chegou um e-mail falando do caso e colocando Deus no meio. O problema tem várias vertentes para analisarmos, mas falaram de religião e eu não pude deixar de pensar: a religião faz muitíssimo bem para muitas pessoas, faz mesmo, mas por conta de uns poucos as religiões podem acabar destruindo o mundo. As religiões deveriam ensinar em seus mandamentos, dogmas, ou seja lá o que for, a respeitar as outras religiões. Se a pessoa quer acreditar em Deus, Zeus, Odin, Apolo, Tupã, Osíris, Gaia, não importa. Cada um tem o direito de acreditar no que quiser.

Quando eu estudava no colégio ainda, ouvi muito falar na aldeia global e pensei que isso ia significar o fim de muita coisa ruim. Acesso aos serviços básicos, trabalho para todos, condições de vida digna, respeito. Principalmente isso, respeito. Se você analisar as guerras todas e muitas das desgraças do mundo, tudo vai acabar na política e na economia, quer dizer, no grande, gigantesco e imenso ego do homem. O mesmo que está destruindo o planeta. Será que meus netos conhecerão florestas e tantos animais apenas por fotos?

Eu deixo o meu parabéns e meu muito obrigado para todos que lutam contra tudo isso que está aí, Contra toda essa sujeira e covardia de irmão contra irmão, de uns com tantos e outros com tão pouco. E também um orgulhoso parabéns para todos os sebreviventes. Vocês são fortes. Demais.

Ah, aposto ainda que não acabam com as drogas por render dinheiro para alguém, assim como todo o crime organizado. Não se fiscaliza ninguém por estarem com rabo preso. Trânsito, escolas, serviços de saúde e coisas outras não melhoram por qual razão? Esse dinheiro todo do crescimento do PIB há vários anos está indo pra onde? O ser humano ainda vai acabar com o mundo, feito um parasita acaba com sua vítima. O antídoto? O próprio ser humano. No entanto, não sei se já percebeu isso e se vai perceber a tempo... Eu não gosto de me meter na política e na economia, mas é porque elas sempre se intrometem na minha vida e aí eu não posso ficar calado.