Traduzindo

quarta-feira, março 30, 2011

Maluco

E aÊ, pessoal, beleza?
Peço desculpas pelo sumiço.
Só pra dizer que vai tudo indo bem e que no final de semana eu apareço pra fazer aquela boa leitura nos blogs amigos.

Beijos e abraços!

As diferenças entre um “maluco beleza” e uma pessoa racional, a meu ver, são tênues. Esses dias eu tive o aumento dessa certeza. Eu já sou tido como meio maluco por ficar reparando em coisas “sem grande importância” para muita gente. Que importância tem o riso da criança, o desabrochar da rosa e o movimento das nuvens no céu? Ou a troca de olhares no ônibus lotado, a gentileza em ajudar a velhinha com as compras e aquele beijo apaixonado e de perder o fôlego, às pressas, antes de partir? Bem, cada louco com sua mania, não é? Eu sigo com a minha de reparar nessas coisas...

Pois bem, vou deixar de enrolar e contar logo o acontecido. Esses dias, depois de uma noite mal dormida, liguei para o meu amor e pronto: todo o cansaço havia desaparecido. Estava o mais forte dos homens novamente. Estava no escritório da empresa, saí um instante, fiz a ligação, conversei e voltei para a sala. Eu vinha tão feliz, tão feliz mesmo, que eu acho que minha positividade mudou toda a sala.

O escritório havia se transformado completamente. Nada de mesas, cadeiras e computadores. Não, nada disso. Ao entrar na sala cantarolando “every little thing is gonna be alright”, do Bob Marley, reparei na mágica, encantadora e aprazível mudança. Ali estava um bosque em miniatura. Um pequeno riacho, grama, árvores baixas, pedras e troncos para sentarmos. Um cheiro de flores do campo e de vida impregnava a sala, ao invés do cheiro de carpete novo, café e cigarro.

As mulheres tornaram-se fadas, pássaros e rosas. Misturavam-se e embelezavam todo o ambiente. Os companheiros da luta diária transformaram-se em gnomos, coelhos e bardos, a declamar versos ao amor e à vida. E todos ficavam em seu lugar e misturavam-se de vez em quando, só para deixar o clima de fraternidade melhor. E tava tudo tão bom que eu tive vontade de sair para te encontrar, porque eu gosto de fantasia, mas gosto mais ainda da minha realidade.

Levaria comigo aquela grande Lua cheia amarrada em um balão. E ela seria só tua e de mais ninguém (peço desculpas aos outros casais e aos lobisomens, mas como o texto é meu, posso pegar a Lua sem problemas). Amarraria ali na tua janela pra tu ter as mais belas noites. No caminho, arrastaria comigo todas as estrelas para colocar no teto do quarto e aos teus pés. Levaria no bolso um pouco dos ventos marítimos e o barulho das ondas batendo na areia, só para deixar tua noite ainda mais refrescante.

Guardaria o sol em uma caixa de música, junto com pássaros de gostosa cantaria. Só abriria a caixinha quando tu acordasse, pois esse é o momento que o dia começa. E ficaria difícil levantar, pois roubaria algumas nuvens para tu usar como travesseiro e colocaria ao teus pés aquela areia branca e fina as praias desertas.

Correria mais rápido que o vento para te encontrar e derrubaria todos os muros e exércitos que ousassem ficar em meu caminho. Eu até aprenderei a nadar para passar por todos os mares, rios e lagos.

E eu te encontraria e seria tão bom, bonito e gostoso que eu nem vou descrever que é pra não largar o texto no meio e sair correndo para te encontrar de verdade. Vou nem dizer mais nada que é pra não dar mais vontade de ti. E eu tenho certeza de que tu ainda teria coragem de me chamar de sem juízo, de louco, afoito, sem noção e maluco, não é? Se tivesse, não negaria. Sou mesmo. Sou louco, maluco por ti.

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domingo, março 20, 2011

Tchau

Feliz da vida ia para casa, numa noite dessas qualquer, de lua bonita e céu mais estrelado feito não sei dizer. Mesmo triste por ser obrigado a me desgarrar da minha morena, ia feliz pelo tempo passado junto (muito ótimo, por sinal). Ia tranquilo por um dos nossos humilhantes coletivos. Estava sozinho na parte traseira do coletivo quando subiram um homem e uma mulher e me obrigaram a passar. E fizeram isso com um tipo de violência diferente.

Ele, coitado, não sei se por falta de banho e desleixo mesmo ou por estar voltando da luta diária, do trabalho de onde tira o sustento, soltava um cheiro azedíssimo pelo ar. A moça usava um perfume ou brilho tão doce, tão enjoento, que eu não entendia como a própria suportava. Agora, imagine a mistura desses dois odores. Como estava recebendo a mistura diretamente, decidi atravessar a roleta/catraca e ir sentar lá pela frente.

Observava o movimento, tanto interno quanto externo. As pessoas e carros a passarem lá fora, as idéias e sensações a rodopiarem aqui dentro da cabeça. Estava distraído quando um desses acontecimentos que mudam a vida da gente aconteceu. Não, o ônibus não bateu, não teve assalto e nem ele quebrou. Uma senhora subiu pela porta da frente e sem mais nem menos colocou uma criança na minha cadeira. “Cuida dela pra mim?”, e teria como eu dizer não?

Não sabe ela que mal sei tomar conta de mim, imagine de mim e de uma criança dentro de um coletivo. Naquela hora, eu me senti o responsável pela vida dela, não só presente, mas futura também. Eu já disse como era a criança? Uma menininha, uma doçura, de vestido branco, cabelos castanhos, gordinhas bochechas, olhos curiosos e pele branquinha a segurar um simples balão rosa. E me olhava sem nada entender. Fiquei com medo dela não querer a minha proteção e começar a chorar, mas não chorou.

Tentei um diálogo – eu sou ótimo em diálogos – para estabelecer algum contato. Ela respondia num dialeto incompreensível para mim. “Gliboxiu, absthui, shala-la-la”, devo até ter dito isso alguma vez na vida, mas já não mais entendia, se é que entendia naqueles tempos de criança. Talvez minha mãe entendesse, pensei em ligar para ela e pedir uma tradução simultânea, mas desisti.

E pensei em um milhão de coisas para contar para a pequena: cuidado com os homens, mulheres, em todos os sentidos possíveis, crianças e velhos; tanto tem gente boa como ruim nesse mundo. Memoriza isso. Mas eu gostaria mesmo que ela entendesse a seguinte mensagem: pequena, aproveita bem a tua infância, adolescência, maturidade e velhice. Quando for velha, vais poder olhar pra trás e dizer: “Vivi bem demais, fiz muita coisa, conheci muitas pessoas e lugares e, principalmente, fui feliz”.

Eu até entendo o fato dela não entender nenhuma das minhas palavras e nem fiquei triste por isso. Ela me olhava e olhava, inclinava a cabeça para um lado, abraçava o balão, colocava-o na boca e eu tenho a certeza, quase certeza mesmo, de tê-la visto balançando a cabeça afirmativamente. Minha missão estava cumprida, ninguém poderia dizer que ela não teve instrução quando criança, fiz minha parte. A mãe voltou e a tomou de mim. Desci do ônibus como se faltasse alguma coisa. Pela janela, ainda pude ver a pequena a colocar o balão na boca e quase choro ao ver aquela mãozinha branca acenar um singelo tchau para mim...
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sábado, março 12, 2011

Sábado bom

Antes de mais nada, gostaria de agradecer os comentários carinhosos.

Muito obrigado, obrigado mesmo.

Saúde e paz para todos nós.

Beijos e abraços

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Sábado é um dia interessante para dormir um pouco mais, depoimento de uma pessoa que passa a semana acordando cedo. No entanto, se eu passar muito tempo dormindo fico com a sensação de ter perdido alguma coisa, tempo, eu acho, sei lá. Dia desses, um sábado, saí de casa com um objetivo certo: comprar livros num charmoso (ou nem tanto) sebo lá no Centro da cidade. Na verdade, mentira, iria mesmo era me encontrar com minha morena e aproveitaria para antes dar uma passada lá no sebo e caçar alguns bons exemplares.

Dito isso, fiz tudo como o planejado e quem me conhece sabe como sou péssimo em planos. Não consegui sair de casa no horário planejado, mas deu tudo certo. Cheguei ao sebo e a minha primeira vontade foi a de sair abraçando as estantes e sair correndo com elas para casa. Calma, não tenho essa obsessão criminosa, é só paixão pelos livros mesmo. Um dia desses, eu junto dinheiro o suficiente para fazer essa loucura.

Dentro do recinto, mais parecia perdido numa caverna do tesouro, olhava para todos os lados, maravilhado. Indeciso como sempre fui, passeava pelas estantes recheadas de livros novos, velhos, usados, estragados, tirados do lixo, mais ou menos e tantos outros adjetivos. Nem precisa contar do cheiro, né? Cheiro de muita história, tanto nos livros quanto nas dedicatórias, carinhosas, mas perdidas agora.

Com uma enorme felicidade consegui quatro livros interessantíssimos. A pátria em chuteiras, do Nelson Rodrigues; Ed Morte e outras histórias, do Luís Fernando Veríssimo; e dois outros sobre futebol. Saí de lá feliz da vida, como se tivesse encontrado o pote de ouro no final do arco-íris.

A partir daí, abraçado com o saco de livros como se protegesse um saco de livros, foram só conflitos. Ao atravessar um corredor de bebedouros deixados na calçada por uma das milhares de lojas do Centro, o primeiro embate. Em uma ponta, nosso herói, eu, claro. Na outra, uma senhora toda vestida de preto com um mortal guarda-chuva. Para mim, mais parecia o Darth Vader. Nos olhamos durante alguns segundos, só um poderia passar, mas quem iria ceder?

Mais parecíamos um touro e um elegante toureiro. Não preciso dizer que era o toureiro, preciso? Pois bem. Com um rápido movimento, usei minha arma mortal: minha simpatia. Fiz uma reverência como se fazia antigamente, nos tempos da educação ou cavalheirismo, cruzando uma perna por trás da outra e inclinando-me um pouco. Ganhei um sorriso e com tal pagamento a deixei passar.

O segundo combate foi mais agressivo, com mais energia, do jeito que o brasileiro gosta. Ao atravessar a avenida, dei de cara com meu próximo adversário. Um coroa, meio fora de forma, de camiseta e carregando alguns pacotes. Tinha aquela calvície central, estilo ninho de passarinho e utilizava um bigode branco, sempre na moda. Havia uma calçada para nós dois, mas apenas uma reta. Era eu ou ele.

E naquele momento, as pessoas não se deram conta, mas ali a alma do povo brasileiro se revelava. Eu podia ouvir os gritos da multidão a me incentivar, como se estivesse num grande estádio. Ele foi para um lado, eu fui também. Gingou pro outro, fui junto. Bom zagueiro como sempre fui, acompanhava todos os movimentos. Ele tentou mais uma vez e cansou. Chegava a minha hora. Ginguei para os dois lados usando toda a minha malemolência, ele ficou confuso. Numa fração de segundos, que pareceu ter durado toda a eternidade contida em alguns segundos, nos encaramos. Quando comecei a levantar as duas sobrancelhas ao mesmo tempo, como quem diz “e aí, ainda vai encarar a minha marcação mesmo?”, ele começou a rir e me deixou passar. Ninguém aplaudiu ou mesmo reparou nisso, mas foi uma importante vitória para minha carreira de jogador.

Sábado, o relógio marcava 12h30. Em um braço, carregava meu tesouro de livros, com o outro, abraçava meu verdadeiro tesouro, minha morena, a dar leves cheiros e beijos em meu pescoço. Se a metade do dia estava boa desse jeito, eu já começava a rir só de imaginar o que ainda viria a acontecer...
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quarta-feira, março 02, 2011

Café com leite

E aê, pessoal, beleza?
Bom, não sei se alguém reparou, mas o marcador da crônica acabou de passar do 100.

Acho que um dia eu comemoro isso, ou talvez não, vai saber.

Acho melhor comemorar logo agora.

Um muito obrigado pra todo mundo que vez por outro vem aqui dar uma espiada nas minhas viagens, que tira uns minutinhos do dia pra viajar junto comigo.

Muito obrigado mesmo.

Esses dias eu tava preocupado, achando que nem tinha mais condições de pensar nessas coisas, olha aí a minha viagem hehehe.

E vamos que vamos.

Beijos e abraços!
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Era uma vez uma garota de belos e longos cabelos e grandes, brilhantes e curiosos olhos. Em sua mente, o mundo era sempre diferente: as nuvens, por exemplo, todo dia brincavam de modelagem, um dia, faziam pôneis e dragões medievais, noutro, uma luta de aliens contra o Papai Noel. Sua imaginação não possuía limites e seu interesse em descobrir os segredos do mundo era de um crescimento constante.

A infância foi bastante feliz. Foram brincadeiras com os primos e primas, corridas, brigas, conciliações (porque criança não passa muito tempo “de mal”), banhos no açude e todas as coisas boas que só quem passou por uma cidade interiorana tem a oportunidade de conhecer. Começou a ser chamada por tios e tias de pretinha, por conta da pele morena, cor aguçada pelos prolongados tempos em que ficava brincando debaixo daquele sol de rachar.

Pretinha cresceu, ficou moça. Estudou e se divertiu bastante. Conheceu muitas pessoas, muitos lugares diferentes. Mais parecia uma princesa de conto de fadas, pois só lá tanta beleza poderia existir. Moça, não era “mulherzinha”, valente feito Rosa Palmeirão e romântica como Brigite Jones, alternava tais comportamentos.

Ao garoto branquelo de olhos pequeninos e alegres, com um sorriso maior que o corpo magro, aquilo não fazia a menor diferença. Não a conhecia mesmo. Estava com outras preocupações. Sempre pensou demais, tanto em coisas boas quanto besteiras. Quando viajava de carro, achava que sempre estava sendo seguido pela lua. Gostava de viajar sempre na janela, imaginando-se correndo do lado de fora, pulando os mais diversos obstáculos das calçadas. Hoje, viaja muito, principalmente parado.

Sempre foi muito sonhador e, por vezes, muitas, costumava sonhar acordado. Antes mesmo de algum acontecimento ele já imaginava mil situações e diálogos. Era ansioso por histórias, era ansioso pela vida e seus múltiplos desdobramentos. Não sabia nada disso. Era apenas mais um dentre tantos ansiosos. Ficava nervoso, por conta da grande timidez. Era louco pelo mar, mesmo sem saber nadar. Sempre passava tempos jogando futebol na praia com os irmãos, pai e tios. Voltava mais vermelho que um tomate. De tanto falarem pra ele tomar cuidado com o sol, por ser muito branquinho, esse ficou sendo seu apelido.

Branquinho cresceu, ficou rapaz. Se antes era gordinho e fofo feito uma bola de neve, agora era magro e igualmente branco, mas continuava um fofo, segundo algumas tias. Estudou e se divertiu bastante. Conheceu o delírio, conheceu os loucos e confundiu-se com eles, conheceu os tristes, os animados, os quietos, os danados e confundiu-se com todos eles. A sua cara de bom rapaz sempre o permitiu de tudo. Era feito lobo em pele de cordeiro, embora menos fofo que um cordeiro e menos danado que um lobo. Foi triste e foi feliz em tempos diversos. Era metido a escrever uns versos e fazia pose de alma rebelde, sem essa de se apaixonar apenas por uma mulher.

Branquinho conheceu Pretinha. Os olhos grandes encararam os pequenos. E, juntos, brilharam como fogos de réveillon na praia. Todo o passado dos dois, serviu de base para. As duas histórias, agora, andam de mãos dadas. Eles costumam ser Loucura e Razão, alternando-se nisso. Dessa mistura gostosa nasceram dois garotos e uma garota, todos morenos feito café com leite no final da tarde. E a vida dos dois, embora pudesse passar por momentos azedos, era sempre cada vez mais doce e serena...
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