Traduzindo

terça-feira, outubro 09, 2012

Felicidade

Esses dias, mesmo com uma quantidade absurda e totalmente desnecessária de propaganda política, um outdoor conseguiu chamar minha atenção. Nele, um sujeito de meia idade, de cabelos pretos e um pouco acinzentados, sorria. Um sorriso largo. E mais: de braços abertos, convidava-nos para comprar um livro de sua autoria: "Agarrando a felicidade". Convidava de um jeito acolhedor, como quem só quer dar um abraço afetivo. Tinha uma mágica no jeito vender.

Não tenho nada contra os livros de autoajuda, confesso. Sem preconceitos mesmo. Também não acho que seja uma forma menor de literatura. Nada disso. Só prefiro ler outros tipos de textos. Romances, crônicas, literatura fantástica e alguns poemas de vez em quando me fazem bem mais feliz.

Na verdade, acho que me sentiria bem infeliz lendo um desses livros sobre felicidade. Porque, assim, só de saber da existência de livros com títulos como "Encontrando a felicidade"; "Na trilha da felicidade", "Felicidade para todos", entre outros, fico a pensar o seguinte: "Bem, se alguém se preocupou em escrever receitas e mapas sobre esse sonho coletivo, deve ser para mostrar a dificuldade de se encontrar a felicidade por aí, numa esquina qualquer ou esperando por mim quando eu chegar a minha humilde residência. Então, lerei um deles e descobrirei um monte de fórmulas para ser feliz que eu não fiz e, logo, não poderia ser feliz".

Hoje em dia, vende-se felicidade como se ela fosse uma refeição, com receitas de chefs de toda parte mundo. E não deveria ser assim. Se fosse para ser vendida, deveria ser em farmácias de manipulação, com uma receita bem diferente para cada pessoa. Enquanto para alguns a felicidade é uma mansão na praia, com som alto e muita gente dançando, para outros, ela se traduz em uma casinha no meio do nada, como no friozinho do alto da serra, com uma garrafa de vinho, um amor enrolado no pescoço e um vira-lata pra espantar o silêncio de vez em quando.

Depois de bons anos de pesquisa, com a minha vida, com a dos outros, com livros, música e filmes, descobri que a felicidade está nas coisas mais simples da vida. Ela é como um Sonho de Valsa depois do almoço, uma brisa refrescante durante um dia de sol forte ou um abraço bem apertado em quem a gente gosta. Ela pode ser até uma crônica bem gostosa, que termina de repente, deixando um sorriso besta no coração da gente.
=]

Um comentário:

Helena Rodrigues disse...

Oi, Rafa!
Ficamos tão cegos nessa busca desenfreada pela felicidade que, muitas vezes, ela está ao nosso lado e não conseguimos enxergar...

Beijos!