Traduzindo

terça-feira, setembro 18, 2012

Quando morre um cronista

Quando morre um cronista, a vida e a poesia sentem uma pontada de dor. Uma perda para todos. Um cronista tem diversos tipos de morte. Primeiro, quando não mais escreve. Assim, morre o cronista, permanece a obra. Outra morte é quando ele cai no esquecimento, uma morte mais cruel essa.

O cronista é o observador da vida por natureza. Ele vai contando histórias com base em experiências suas e dos outros, além de colher doces frutos da imaginação. Quando o acompanhamos, parece mais próximo, mais humano. Se publicado em jornal, vamos direto atrás dos textos. Quando em livros, são leituras e releituras ao longo da vida.

No dia 10 de setembro de 2012, o cronista Airton Monte faleceu, vítima de um câncer. Não o conheci pessoalmente e nem por troca de correspondências. As crônicas publicadas em um jornal foram o meio. Apesar de médico, letrista, contista, teatrólogo e mais, pra mim, era cronista por excelência. E ali estava um cronista de verdade, como eu sempre quis ser.

Lembro-me dele falando que farofeiro é farofeiro, seja numa praia local ou na Disneylândia, ou algo do tipo. Lembro também dele falar sobre o cronista parecer um vampiro, ao escutar histórias dos outros, ou algo do tipo. Lembro-me dos almoços de família aos domingos, da macarronada com galinha à cabidela, do vinho, das conversas com Dom Airton.

Lembro-me dele falando com e falando das musas, de poetas, músicos, amigos, romancistas, da mulher amada, da dificuldade em escrever. Sentia como se o conhecesse e fiquei triste e aéreo quando ele faleceu. Sempre quis ser um pouco como ele. Apaixonado, boêmio, culto. Um cronista de verdade.

Quando um cronista morre, as crônicas sobrevivem. As histórias, sentimentos e lembranças também. Tudo eternizado pelo meio de comunicação efêmero por excelência, quando todo dia uma nova crônica precisava nascer, “na base do fórceps”, memória ou criatividade. No gênero considerado “menor” foi onde eu conheci os maiores. Justo seria o jornal ficar mais barato, pois agora a dose de lirismo e poesia diária já não é a mesma...
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“O cronista é um lírico de passagem; se expressa de súbito, ao se deparar com o catalisador da emoção poética” (Davi Arrigucci Júnior, no texto Braga de novo por aqui, no livro Os Melhores Contos – Rubem Braga).

2 comentários:

Unknown disse...

seu escrito me faz pensar que um cronista (querido) morre pra virar poeta.

bjoo

António Je. Batalha disse...

Olá , passei pela net encontrei o seu blog e o achei muito bom, li algumas coisas folhe-ei algumas postagens, gostei do que li e desde já quero dar-lhe os parabéns, e espero que continue se esforçando para sempre fazer o seu melhor, quando encontro bons blogs sempre fico mais um pouco meu nome é: António Batalha. Como sou um homem de Deus deixo-lhe a minha bênção. E que haja muita felicidade e saude em sua vida e em toda a sua casa.
PS. Se desejar seguir o meu humilde blog, Peregrino E Servo, fique á vontade, eu vou retribuir.