Estava
pronto para sentar em frente ao computador e começar meu trabalho de conclusão
de curso. Já tinha arrumado livros e anotações, além de uma garrafa com água,
uma xícara de café e alguns biscoitos. De repente, a campainha tocou. Era o
medo. Ele podia até se atrasar, mas sempre chegava e dizia: Cheguei. Vamos
começar?
Nascemos
juntos, de mãos dadas, embora os médicos não o tenham percebido. Quando
pequeno, se eu ficasse sozinho, começava a chorar. Era o medo beliscando meu
coração, tornando-me inseguro. Toda criança tem medo, certo? Certo, mas poucos
devem ser tão fiéis quanto o meu, acompanhando-me por toda a vida.
Quando ia
sair para brincar com meus amigos, ainda na infância, ele saia de casa correndo
comigo, ao meu lado. Então, eu começava a brincar e ele ia
embora. Voltava comigo, claro, me fazendo pensar em algum sermão da minha mãe.
Ficamos juntos na escola e também na faculdade. Quando havia festa e alguma garota começava a conversar comigo, não tinha erro. Ele vinha não sei de onde, colocava um braço por cima do meu ombro e falava ao
meu ouvido: Já sabes que não vai dar certo, né? E começava a rir. Enquanto isso,
eu começava a conversar e ele ia embora, chateado, por falta de atenção
Da faculdade
para o estágio e mercado de trabalho. E lá estávamos, unidos como sempre. Ah, nas
entrevistas para conseguir alguma vaga também. Ele ficava sentado ao meu lado,
dizendo: Ainda dá tempo de ir embora. Vamos? E eu ficava, conversava e tive sorte em algumas oportunidades.
Nesse tempo
todo, nunca passei um dia sem ter medo de alguma coisa. Era medo de perder a hora de acordar,
de perder o ônibus ou a carona. De ter esquecido o dinheiro, um boleto, uma data importante ou um trabalho. E também de esquecer de fazer alguns contatos, de
responder alguns e-mails. Medo de tudo um pouco.
E vocês
podem até pensar: Que homem mais medroso! Não se pode viver assim! E eu
concordo: Não é possível viver assim. E ainda bem que não vivi. Esse medo
por vezes era bobo, efêmero. Muitas e muitas vezes ele não foi feito veneno, paralisando
minhas pernas, enrolando minha língua e confundindo meus pensamentos.
O medo não
foi veneno, foi energético. Por ele eu acordava mais cedo e me tornava mais
organizado, dependendo da época. Quando ele chegava ao meu lado, eu dava de
ombros e o expulsava muitas vezes.
Pensava mais rápido, pensava em soluções, em novas possibilidades. As mãos suaram frias muitas vezes, assim como senti um frio na barriga tantas outras. Não encarei todos os desafios, mas venci vários. Não fosse a presença constante do medo, como a coragem poderia ter nascido e vencido tantas vezes?
Pensava mais rápido, pensava em soluções, em novas possibilidades. As mãos suaram frias muitas vezes, assim como senti um frio na barriga tantas outras. Não encarei todos os desafios, mas venci vários. Não fosse a presença constante do medo, como a coragem poderia ter nascido e vencido tantas vezes?
=]
5 comentários:
Texto muito bom! Vi-me nele por alguns minutos!
Perfeito, admiração só aumenta😊
Amei! Gostei demais!
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