Traduzindo

sexta-feira, dezembro 24, 2010

Ainda assim

Eu tô postando de novo por ter esquecido algumas coisas.

Eu queria agradecer pelos comentários carinhosos de sempre.

Muito obrigado pelo carinho e atenção (e pela paciência de ler os textos)

Um Feliz Natal para todos!

Tudo do bom e do melhor para todos nós!

Beijos e abraços!

=]

Chove, muito forte. E faz frio, muito. Tanto lá fora quanto aqui dentro. Do meu coração. Mais uma vez, estou abrigado sob uma das paradas de ônibus da minha já não tão bela cidade. O asfalto da cidade deve ser de açúcar, pois mal chove e ele se desfaz todinho, imagine com essa chuva... Para decretar estado de emergência não falta nada, falta só alguém decretar mesmo. Com chuva ou sem, estamos nesse estado faz tempo. Bicho engraçado é o ser humano. Tem um monte de gente ao meu lado passando frio. Se não fôssemos tão “racionais”, encostávamos uns nos outros para ficarmos todos bem quentinhos. Mas vai entender...

Eu insisto em esperar o ônibus para o trabalho, sem saber se o prédio vai estar de pé quando eu lá chegar, se foi arrasado pela chuva ou pelos cupins que há tempos vivem como reis lá. Comeram a madeira toda do escritório já, um pouco do piso, mesas, cadeiras, estantes, e meu chefe nem dá bola. Um dia a casa cai, literalmente. Até parece que trabalhamos criando cupins, e não vendendo inseticidas para matá-los.

Engraçado é ver as pessoas reclamando da sujeira na cidade. Ao meu lado, pilhas e mais pilhas de lixo, jogado pela mesma população a reclamar na TV. Crianças correm pelas ruas, a brincar com a água vinda dos céus, sem medo algum de contrair uma doença. Deveriam ter, pois sem abrigo, sem remédios, quem irá interceder por eles? Basta a reza para salvar corpo e alma? Acho que não é bem por aí. O dia é cinza, só para combinar com meu mau humor e com a situação na qual nos encontramos? Ainda há esperança?

Na minha frente, eu vejo que solidariedade ainda não é coisa do passado. Um grupo de homens, novos e velhos, esforça-se para empurrar o carro de uma desconhecida. Não, não era bonita, foi puro altruísmo mesmo. Ao meu lado, a senhora oferece uma “carona” de guarda-chuva até o próximo abrigo. Aos poucos, a situação parece ir melhorando.

De uma van, desce uma loirinha. Com um vestido azul claro, cheio de flores, perfuma o local. Balança a cabeça negativamente e faz um bico ao olhar para o cabelo, um pouco assanhado. Olha para a chuva com uma alegria incrível. Ela só falta perguntar: bonito, né? Mas não o faz. Admira a chuva como eu admiraria se estivesse em um dia bom. Um rapaz ao meu lado, atende o telefone. Grita e pula em um espaço de um metro onde há oito pessoas. Vai ser pai. Quer abraçar todo mundo. Eu não sei como deve ser essa alegria, mas é forte o suficiente para ele decidir voltar correndo para casa, debaixo da tempestade.

Um casal chega e se espreme com a gente. A moça, branquinha, de cabelos castanhos na altura dos ombros, carrega uma criança nos braços. Uma maldade a criança enfrentar essa chuva. Desculpem, mas não reparei no rapaz, era apenas mais um de camisa listrada, calça escura, sapatos sociais e um óculos todo molhado. O diferencial dele era a ternura no olhar direcionado à criança.

A mãe e a criança bem dariam um belo quadro ou uma cena de documentário sobre amor. A mãe parece querer passar todo o calor que tem para a criança, e eu até acho que consegue. A criança, mais parece um filhote de bicho-preguiça, tão agarrado está, com as mãozinhas a apertar a roupa e o cabelo da moça. E eu quase posso ver um sorriso. Engraçado, mau humor é um negócio triste, deixa a gente cego para as coisas boas e bonitas da vida. Agora eu vejo. Chove, o céu parece cair, e ainda assim, faz sol.
=]

4 comentários:

Gisa Carvalho disse...

Fui fazer uma seleção em um jornal e, engraçado, também escrevi uma crônica sobre um dia de chuva. Cidade problemática, transtornos e tudo mais. Mas não fui além... Não olhei para as pessoas, não percebi como outros, além de mim, sentem a chuva. Faltou-me a sua sensibilidade, um pouco do seu olhar bom para o mundo, um olhar do tipo "tudo vai melhorar".

Naiana Iris' disse...

''Perdido em pensamentos'', perdido em um mau humor que o fez encontrar tantas coisas belas, simples e leves. Incrível como pessoas assim conseguem encontrar dias de sol em dias de chuva. Observa as coisas que quase ninguém repara. '' O fora do comum, ou o comum'' (quando olham para o espetacular).

Tamyle Ferraz disse...

UM pouco mais de sol...
vc entendeu o que quer dizer o título do meu blog!



Amei esse texto, particulamente. ele disse o que eu tanto tento dizer
abraços!

Priscila Lima disse...

ainda tenho que ler direito os últimos posts... sempre muito bons. passando só para agradecer o comentário lindo que você me deixou.
e ainda tô esperando esse nosso café viu?!
beijos