Quando Paulo abriu a
porta, Clarissa já o esperava. Continuava linda. Cabelos pretos,
fortes, como sempre foram. O perfil mostrava uma mulher bonita.
Estava em frente à mesinha da sala, sentada no sofá. Bebia. Apesar
de triste, parecia calma. Parecia mesmo era estar desapontada. Ao cruzar
o olhar com o dela, ele não consegue deixar de sentir uma pequena
tristeza.
Ela vira o rosto para
olhar as fotografias do casal na estante. Esboça um triste sorriso.
- Então, só queria
saber uma coisa: é definitivo?
- Sim, é definitivo.
- A culpa foi minha?
Fiz alguma coisa de errado? Deixei faltar algo para você?
- Não, você não teve
culpa de nada. Isso pode acontecer com qualquer um.
- Alguém mais está
sabendo?
- Não, sempre fui
muito discreto, você sabe.
- Sim, e como sei.
Sempre gostei disso...
Calmamente, ela tira o
anel de casamento e coloca em cima da mesa.
- Sabe, Paulo, nosso
casamento foi um dos momentos mais felizes da minha vida.
Sorri e deixa uma
lágrima cair.
- Foram ótimos estes
últimos anos. Já estamos perto dos quarenta. Quarenta, Paulo! Como
isso tudo estava tão longe quando você ia escondido lá para casa.
Deus, faz tanto tempo assim?
Coloca um pouco mais
de whisky no copo e acendeu um cigarro.
- Você sabe que eu
tinha parado com as duas coisas, mas hoje é um dia especial. Sabe,
admiro tua discrição, porque eu não desconfiei de nada. Homem,
quando é pra fazer safadeza...
- Clarissa...
Ela se levanta de
repente e atira o copo contra Paulo.
- O pior de tudo é que
eu não consigo ficar com raiva de você, não consigo! E você é um
cachorro, sem vergonha, traidor... Você não existe, Paulo. Como
pôde fazer isso comigo?
- Desculpa te
desapontar, Clarissa, mas foi mais forte do que eu...
- Homem é tudo igual
mesmo, coisa mais triste. Casam prometendo fidelidade e amor e quando
você vai ver, pá, uma facada pelas costas! Pensando bem, achei
estranho quando você demorou demais naquele Reveillon. Foi pegar uma
bebida e voltou meio desconfiado... Foi ali que começou?
- Clarissa, eu só vim
aqui devolver a minha chave do apartamento. Peço perdão e espero
que um dia nós possamos ser amigos. Já vou indo.
Ele caminha em direção à
ela, mas ela o afastou com a mão, como se espantasse um mosquito.
- Olha, é melhor você
ir logo embora. Fique sabendo que pra mim não tem mais volta. Não
sou mulher de idas e vindas. Adeus.
Quando ele se prepara
para sair, ela fala, de forma triste:
- Paulo? Boa sorte para
vocês e manda um beijo pro Marcelo.
=]
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