Traduzindo

sexta-feira, dezembro 05, 2008

Encontro dos bons

Estava há tempos dentro do ônibus, não esperava a hora de descer e sair daquele sufoco. Ia conversando com Diego sobre coisas da vida. Sobre Devir e Arte, perguntando se criar é resistir ou se resistir é criar. E observando o movimento, dentro e fora do ônibus. A conversa é que valia a pena dentro daquele aperto, meninos e meninas, velhos e novos, gordos e magros, todos tentando contrariar a lei da física que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. No entanto, aí é mais de um corpo tentando tal feito.

Hora de descer. Não sabiam do encontro agradável que os aguardava. Carla e Lorena os esperavam. Encontro desses inesperados, tal qual sair de casa pela manhã e dar de cara com um arco-íris. Não podiam ficar ali, em pé, conversando no meio do tumulto. Foi Lorena que tomou a fala:
- Aqui não vai dar certo não, é um caos, pessoas indo e vindo, fumaça, barulho... Não dá pra conversar aqui não.
- E para onde vamos?
- Que tal um lugar de leveza?

E todos concordaram, sim, vamos a um lugar de leveza. Mas onde seria isso mesmo? Como chegaríamos lá? E então foi a vez de Carla falar:
- Eu conheço um lugar ótimo pra gente ficar, lá estaremos tranqüilo. É uma cafeteria 24 horas. Alguém topa ir lá?
- Não conheço, mas não custa nada conhecer, disse Diego.

E foram todos para o local sugerido. Realmente aconchegante. Sentaram e cada um pediu um café e uns biscoitos pra acompanhar. A conversa passaria por vários assuntos, política, economia, filosofia, religião, poesia, prosa, natureza, futebol, micos, comida,romances e dramas, experiências pessoais fortes e leves, livros, locais para se visitar... E então chegou Simone e juntou-se a eles na mesa.
- Como todos chegaram aqui? Não moramos em estados diferentes? Como esse encontro foi possível?

Ninguém soube responder. E o clima ficou tenso. Por qual razão estarão todos reunidos ali? Carol chegou trazendo Camila e sentaram-se à mesa. Disseram logo a conversa da vez. Carol não se mostrou preocupada com a situação:
- Bem, acho legal um encontro entre nós. Não vejo nada de mal nisso. Além do mais, eu prefiro que seja assim, no plural mesmo, com todos participando.

Camila, entretida ainda com um zine colorido, deixou a leitura de lado e concordou com Carol:
- Bem, isso é estranho mesmo. Também não sei como vim parar aqui. E nem conheço alguns aqui, mas também não vejo problema em conhecer novas pessoas.
- Eu acho que isso é coisa de alguém sem idéias pra escrever e começou a ter umas viagens, viajou total e juntou todo mundo aqui e agora.

Ninguém entendeu o que ele quis dizer com aquilo. Continuaram a conversar, todos conhecendo todos agora, sem nenhum problema de comunicação. Lorena disse não haver problema nenhum a próxima reunião ser em sua casa de praia, com direito a provar um deliciosos pudim de leite. Quem quisesse levar o chimarrão não haveria problema. Podiam conversar à vontade na beira da praia, sem preocupação alguma.

Todos concordaram com a proposta e, afinal, ninguém seria louco de recusar um convite desses.

Mas Simone estava intrigada ainda. Como chegaram ali?
- Bem, eu vim conversando com Diego no ônibus, uma conversa bem agradável por sinal. Encontramos com Lorena e Carla e depois tu chegou e, depois de ti, a Carol e a Camila. Nada de muito anormal, não precisa ficar tensa.
- Eu não estou tensa, é porque sou assim mesmo, intensa. Mas vamos deixar pra lá e voltar a conversar.

E tome conversa, e café. E o dia foi passando rápido e fagueiro, permeado por conversas que fazem bem à todos. Um dia para não se esquecer. Um encontro inimaginável, inexplicável.

Depois de muita conversa, sobre os textos, sobre as vidas, era chegada a hora de ir embora, cada qual para seu canto. Prometeram escrever uns aos outros, não cortar os laços. E foi cada um pro seu lado, levando já na cabeça o que iriam escrever ao chegar em casa, como contariam aquilo que ninguém soube explicar. Menos um, que sabia por qual razão todos estavam ali e já tinha o texto feito.

Então, ele acordou. E a primeira coisa que pensou foi:
- Poxa, acordar pra que?
=]

4 comentários:

Carla P.S. disse...

Noooossa!!!
Fan-tás-ti-co !!
E eu, que acabei de tomar meu cafezinho (de verdade!), comecei a ler o texto como quem não quer nada.. E quando vi,além de agradável leitura, eu virei personagem da trama e, o melhor, a cafeteria foi o local de encontro! Que coisa lírica, linda, bonitinha! Adorei, de coração, tamanho foi teu talento junto com as palavras proferidas.. Laços feitos, jamais desfeitos..;)
Café especial pra ti hj, escolha o tamanho e o sabor ;)
Mil beijos, luz e paz.

Diego Medeiros disse...

Veja as trocas de intensidades. O cotidiano e ficção entranhados, tudo um só, no meio. Vi com bastante prazer essa mistura meu bom Rafael, tudo isso regado a uma saudade que comentei ontem no mesmo ônibus da estória com o Leleu. Tô pensando em continuar essa estória, que achas?

Abraços,
Diego

lorena disse...

vc já sabe o q achei neh. e depois ainda vem com aquela historia de pedir autorização? até parece, adorei esta historia dos encontros. seria bacana msm, a casa de praia apesar de não ser minha tá sempre de portas abertas. e o pudim de leite tb, rsrs.


=]

Simone disse...

Ah, não tenho vergonha de dizer que fiquei com os olhos cheios de lágrimas! Haha Adorei Rafael, sério! Muito criativo!


Não tinha visto mesmo, ainda bem que me avisaste! Gostei muito de "conhecer" todos vocês, parte especial do meu dia!

E acho ótima a ideia de irmos para a casa de praia da Lorena! hahahaha

Um beijão!