Traduzindo

segunda-feira, dezembro 01, 2008

Mais uma dos coletivos...

Não tenho como evitar, vou pra vocês contar mais uma história que se passa nos ônibus de nossa "Loura Desposada do Sol", nos dizeres de Paula Ney. Não tenho como evitar tais histórias, porque não tenho como evitar minhas andanças pelos ônibus da Capital. Preciso deles. Tem horas que sinto-me como disse o Airton Monte dia desses (parecia que ele sabia que eu ia dizer isso e disse antes só de mal, risos) um vampiro do cotidiano, sempre atrás de novas histórias, "chupando" de desconhecidos outras mil e uma histórias, uma já contadas e outras tantas na cabeça esperando uma oportunidade de aparecerem. (Falando no Airton Monte, cronista diário do jornal O Povo, fiquei pensando sobre como deve ser escrever uma crônica diária, todo santo dia uma crônica, uma história pra contar, idéias pra falar, reflexões, meus pontos de vista sobre o mundo, minhas verdade e minhas mentiras, meus amores e minhas saudades sendo desfiadas diariamente no jornal. Não sei se conseguiria. Ou então seria craque nisso porque adoro histórias, mais ler e ouvir do que contar. E podia ser até uma coisa boa porque ia aliviar bem muito minha cabeça que produz um número grande de viagens por minuto. Isso podia até ser tema de uma crônica, ou o fato de se eu me desligar um pouquinho minha cabeça vai longe, só voltando num susto. Isso lembra também, isso, outra coisa, um post do Zine Colorido, da Camila Chaves, sobre esse negócio de escrever algumas coisas entre parêntesis. Pois eu também acho isso bem legal. O problema é que sem o tal parêntesis eu já fico mudando de assunto corriqueiramente, imagine com os tais. Então, vou voltar pra história de antes. Qual era a história mesmo?).

Acontece (só mais um, dizendo pra você voltar ao começo do texto e lembrar do que eu tava falando, como eu fiz) que eu não fico indo atrás de histórias, como um vampiro indo atrás de pescoços para chupar. Eu simplesmente estou lá, bem sentado, ou muitas vezes em pé, e as histórias aparecerem. Fico observando, ou então tem alguém falando muito alto e eu sem querer querendo fico sabendo de tal história. E vou contar um negócio acontecido dia desses. Ás vezes, pela manhã, indo pro estágio, eu fico meio desligado, acho que por causa do sono. Voltando de lá, continuo desligado, agora por causa da fome e porque volto sem conversar com ninguém na maioria das vezes (converso com um motorista e um trocador, de ônibus diferentes, e com umas meninas de vez em quando).

Fui uma noite desses lá pra biblioteca renovar meus livros. Era um horário bom, quase sete horas da noite, pouco movimento nos coletivos, no sentido que eu estava indo. E eis que sentado um pouco à frente - nada muito espantoso - um casal, homem e mulher, namorados ou com algum rteipo elacionamento.

E comecei a pensar nos vários casais que vi em minhas incontáveis viagens. Vários "tipos": de capoeiristas, de surfistas, de estudantes, de crianças, de velhinhos, de "executivos", de gente normal que não dá pra identificar. Uns eu achava bem bonitos, tipo "saídos da propaganda de uma pasta de dente", e outros sem feder nem cheirar, nada de anormal. E eu ria sozinho com minhas besteiras: "Nossa, que casal estranho", "eita que casal pra não combinar", "que combinação é essa?", "estranhos, mas felizes", entre outras besteiras relacionadas aos diversos tipos de casais que via. E percebi que não tinha do que estar rindo, afinal, todos estavam lá com seus respectivos pares, e eu estava lá, sozinho. Sozinho não, solteiro. É diferente. Bom, depois parei de reparar nessas coisas percebendo a besteira que era (mentira).

Voltando ao casal que eu vi, eles tinham algo de diferente. Ao longe pensei que eles estava a brigar. "Poxa, mais um desses casais a brigar no ônibus. Podiam lavar a roupa suja em casa. Fazendo barraco no ônibus, assim não dá". Mas vi que me equivocava. Pensei ser briga, de longe, pelos vários e vários gestos que faziam. Mas estranhei o silêncio. Coisa estranha, a raiva deve ser tão grande que um não quer nem falar com o outro. Passei a catraca (ou borboleta, tanto faz) e sentei perto deles, um pouco atrás.

Conversavam os dois na linguagem de libras, a de sinais. Eram dois surdos, ou mudos - e podia ser que somente um fosse, não descobri. E os vi conversando durante a viagem, fiquei olhando com uma curiosidade gritante frente aos sinais rápidos feitos com as mãos e respondidos em igual velocidade. Estava besta a olhar e sem entender nada, nada mesmo. (Uma vez tentei aprender algumas coisas de sinais mas já esqueci tudo). E durante a conversa entre nós três, eu estava participando, de longe, observando, acho que eles passearam por diversos assuntos, isso por contas das várias expressões faciais. E pode ser que não, vai saber. Até o riso silencioso deles eu compartilhei, com um sorriso leve, de longe, sem saber o motivo dos risos.

E levantaram-se para ir embora. E eu os acompanhando com o olhar. Então, eles pararam. Trocaram um olhar, tão forte, tão intenso, e beijaram-se. Apaixonadamente e de forma apaixonante... Não sei qual foi mais forte: o beijo ou o olhar? E desceram, deixando-me a sós com meus pensamentos, refletindo sobre a linguagem do amor, que ninguém entendeu ainda que não é preciso entender...

ps: que saudades eu tava de escrever aqui, de ler os blogueiros amigos, comentar e ver seus comentários. Dar um tempo é bom para sentir falta. Tenho umas idéias na cabeça agora. Depois eu volto com coisa melhor.

=]

Um comentário:

Camila Chaves disse...

aaah! adorei a citação, rafael. assim como adorei também o texto. gosto quando tu faz esse jogo de se colocar de forma silenciosa e quase imperceptível dentro das relações e participar delas, como naquela história sobre a mulher na parada de ônibu, o vento no vestido dela e o marido dela bem ao lado... rs. inesquecível! (=