Traduzindo

domingo, janeiro 22, 2012

Seres estranhos no meu jardim

“Você não pode conhecer o mundo antes de conhecer a si próprio” (Baltus)
“Isso é besteira. Não liguem para o que o Baltus diz” (Altus)

Aconteceu na madrugada de ontem. Eu e minha mulher preparamos um jantar para um casal que não víamos há tempos. Eles viajaram pela América Latina durante alguns anos. Ele, fotógrafo, ela, antropóloga. Uma noite bem animada, com muita comida e histórias curiosas sobre os mais diversos povos.

Para fechar a noite, oferecemos um dos nossos melhores vinhos. Eles, uma bebida preparada por eles mesmos. “Fizemos esse chá misturando receitas de diversos povos”, ela disse. “É forte, mas é muito gostoso e nos passa ótimas sensações”, finalizou.

No momento, senti mesmo só um calor e uma vontade de rir. Passamos uns bons momentos rindo de qualquer besteira. De repente, passou. Despedimo-nos e eles foram embora. Começamos a dormir por volta de meia-noite e, quando foi lá pelas três e pouco, acabei acordando por conta de uns barulhos estranhos. Tal qual o pessoal inocente (corajoso? ingênuo?) de filme de terror, fui investigar.

Caminhei em direção ao gramado dos fundos com uma vassoura na mão. Abri a porta da cozinha e deparei com uma cena bizarra e fantástica. Dois seres estranhos brigavam no meu jardim. Pequenos, feios e se xingando em português. Isso, português. Pareciam anões ou gnomos de jardim, sendo que bem sujos. Para mim, pareciam pequenos demais para anões e feios demais para humanos.

Eles pararam de lutar e olharam pra mim. “Olhe, Baltus, é ele!”, “Eu vi, Altus, não sou cego”. Esfreguei os olhos e me belisquei para ver se acordava desse sonho maluco. Nada. Vieram em minha direção e disseram: “Ó, grande guerreiro escolhido por Gartthyne, Deusa das Deusas, estamos aqui para te levar ao nosso mundo, para que libertes nosso povo”.

Eles falavam bem sério, ajoelhados. Com um tipo de espada ao lado de cada um. “Grande guerreiro, precisamos ser rápidos. O Senhor do Mal, Artelikon, massacra nosso povo há tempos e já estamos pertos da extinção. “Como posso ajudar?”, perguntei.

Pela descrição deles, moravam em um lugar muito bonito, com lagos, montanhas, campos, florestas e tudo mais. No entanto, a maior parte das tribos foi escravizada pelo carinha do mal. De acordo com a descrição, esse Artelikon parecia uma mistura do Coringa com o Gargamel e o Darth Vader... De arrepiar...

Baltus disse que eu precisava pegar a Espada do Sol Ardente, encontrada em algum lugar da Caverna do Medo, para sobrepujar a Espada da Noite Mais Feroz. Para chegar lá, precisaria atravessar a Floresta dos Últimos Guerreiros, o Lago dos Enganados e escapar das armadilhas do Povo Sem Honra. Isso, disse-me Altus, sem contar as criaturas mágicas que eu poderei encontrar pelo caminho, como dragões, vacas curandeiras, ursos das sombras e outras.

Se fosse um sonho, iria com o maior prazer, mas como parecia bem real, disse: “Olha, sou só um cronista, e não o Frodo ou o Harry Potter. Gostaria muito de ajudar, contudo, não sei como”. “Você é o escolhido”, disse Altus. “Só você tem o poder”, completou Baltus. Então eles começaram a se multiplicar. Em segundos, havia dezenas deles. Quando partiram para cima de mim, derrubei todos, rapidamente, usando só a vassoura.

“Vês? Tens o poder. Vamos agora”. Os dois me puxaram pelo braço e começaram a correr em direção aos fundos do jardim. “Coma esta semente, rápido!”, e me jogaram em um buraco negro. A sensação não foi das melhores. Quando abri os olhos, dei de cara com um lugar que parecia muito o Interior do meu estado. Muito verde, lagoas e montanhas.

De repente, a terra tremeu e tudo ficou escuro. Acordei aos gritos: “Acorda, amor! Acorda! Como você foi parar dentro da lata do lixo?”...
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Um comentário:

Hilário Ferreira disse...

Ayahuasca?


às vezes existem uns desses que servem pra existência...