Traduzindo

sábado, maio 14, 2011

Dor

Eu não queria dizer isso não, mas, infelizmente, ou felizmente, eu tenho alguma experiência com a dor. Calma, não sou daqueles loucos por dor, sado ou masoquista, nem sei como diz. Eu, embora muito novo, em relação ao Sarney eu sou muito novo, já passei por uns maus bocados. E se os machucados da pele sararam, também não levo mágoas no coração e nem mesmo cicatrizes na alma.

Há mais ou menos dois anos, jogando o sagrado futebol das segundas e quartas, “ganhei” um chato problema no joelho. Um amigo muito “habilidoso” tentou passar por mim, dei um toque na bola, ele se desequilibrou e, não me perguntem como, num golpe digno de alguém da família Gracie, aplicou uma tesoura-voadora no meu joelho direito. Foram seis meses longe das quadras, gramados, areias e qualquer espaço mínimo para chutar uma bola. A dor que senti no momento foi a de alguém tentando atravessar uma faca no meu joelho. Uma dor desgraçada, mesmo. Não chorei.

Inventei, mais uma vez no futebol, até hoje não sei a razão, de ir jogar no gol. Goleiro só pode ser doido, só pode. Aí, um coroa muito forte, tipo o Rambo, deu um chute tão forte, mas tão forte, e eu fui tão burro, mas tão burro, que coloquei o braço no meio. Resultado: não quebrou o braço, mas o pulso foi embora. Umas duas semanas de tala, muito gelo e dor. Nem sinal de lágrima.

Quando pequeno, já levei mordida de cachorro e uma vez me esfolei todo numa queda de bicicleta. Por sorte meu avô estava perto e eu queria mostrar ser forte pra ele, além da presença dele sempre me acalmar. Um dia eu até quase perdi o dedão do pé direito ao pisar num resto de árvore. Já levei quedas e pancadas diversas, tudo sem derramar uma lágrima.

Quando pequeno, criança é bicho engraçado, decidi subir no escorregador ao invés de descer. Gênio, né? Toda criança faz isso. Levei uma queda, lasquei o joelho – sempre ele – no chão. Fui pra casa calmamente e dolorosamente para falar com meu pai e irmos ao médico, o joelho estava muito inchado. Eu era gordo, mas aquilo ali não era gordura não. Chegando lá, o médico disse que resolvia num instante. “Vou só ali pegar um negócio e já volto”, disse ele. Voltava com um pratinho e eu, gordinho feliz, pensava que ia ganhar um lanche. Dentro do pratinho, uma seringa, aplicada em meu joelho sem dó e piedade. E eu vi o sangue saindo do meu joelho para o prato. Sem chorar. E ganhando elogios do pai. “Caba maxo”, e eu lá, na frieza de quem tá doido pra chorar, mas não pode perder a pose de valente, fazendo uma pose igual a do Che.

Lembro que quando muito novinho, morando na Bahia, chorava ao ver meu avô saindo de casa. Isso, na verdade eu não lembro, me contaram. Ele só podia sair de casa depois que eu dormisse, senão, não tinha sossego. Chorei uma vez quando o vi doente. Estava bem, mas só o fato dele estar doente, com alguns tubos e frágil, já mexeu muito comigo. Ele sempre foi forte, teimoso e muito ativo.Vê-lo na cama não foi fácil. Graças ao bom Deus ele continua ao meu lado firme e forte e ele há de ver meus filhos cor de café com leite no final da tarde. E vai fazer pães de queijo para eles, paçoca, colocar nos braços, contar histórias e tudo mais. Tenho certeza!

Eu nunca fui muito de chorar não. Já reprovei cadeira da faculdade, levei bomba em provas diversas, não passei em concursos, terminei namoro, perdi coisas, fui roubado, perdi finais de campeonato, vi o timão e a seleção perderem, mas nada disso me fez chorar. E eu até pensava que estava ficando uma pessoa fria, mesmo com toda a sensibilidade e sentimentalidade, pois não conseguia chorar. Ficava todo arrepiado ou mesmo muito triste em algumas situações, mas nada de lágrimas.

Mas meu amor, minha morena, não resisto ao te ver mal, sofrendo, doente ou o que quer que seja, ao menos saber de ti desse jeito. Eu prometi, continuo prometendo e vou mesmo te fazer a mulher mais feliz do mundo durante todas as nossas vidas. E vou mesmo. As tuas lágrimas somam-se às minhas e doem, também aqui, e muito, em meu peito. As tuas lágrimas somam-se às minhas, assim como os teus sorrisos multiplicam os meus. Amor, vamos deixar as lágrimas de lado e voltar aos sorrisos porque nós estamos aqui para sermos felizes. Eu te amo.
=]

3 comentários:

Juss disse...

Pra você ver, né. Nem quando o Corinthians é eliminado de uma Libertadores, ainda por cima na primeira fase, o caba chora. É macho mesmo.


Porém, acima de tudo, é um excelente escritor. E um grande homem. :)

Abraço, meu fi! Ótimo escrito. :)

Hilário Ferreira disse...

Chorar por alguém não é (só) dor, é sofrer e sofrimento é escolha.
Isso vai me lembrando um monte de coisas e músicas:
king of pain e principalmente :


"Um homem também chora, menina, 'morena' ..."



Abraço

Tamyle Ferraz disse...

Só para dizer que estou sempre por aqui.