Traduzindo

sábado, março 12, 2011

Sábado bom

Antes de mais nada, gostaria de agradecer os comentários carinhosos.

Muito obrigado, obrigado mesmo.

Saúde e paz para todos nós.

Beijos e abraços

=]

Sábado é um dia interessante para dormir um pouco mais, depoimento de uma pessoa que passa a semana acordando cedo. No entanto, se eu passar muito tempo dormindo fico com a sensação de ter perdido alguma coisa, tempo, eu acho, sei lá. Dia desses, um sábado, saí de casa com um objetivo certo: comprar livros num charmoso (ou nem tanto) sebo lá no Centro da cidade. Na verdade, mentira, iria mesmo era me encontrar com minha morena e aproveitaria para antes dar uma passada lá no sebo e caçar alguns bons exemplares.

Dito isso, fiz tudo como o planejado e quem me conhece sabe como sou péssimo em planos. Não consegui sair de casa no horário planejado, mas deu tudo certo. Cheguei ao sebo e a minha primeira vontade foi a de sair abraçando as estantes e sair correndo com elas para casa. Calma, não tenho essa obsessão criminosa, é só paixão pelos livros mesmo. Um dia desses, eu junto dinheiro o suficiente para fazer essa loucura.

Dentro do recinto, mais parecia perdido numa caverna do tesouro, olhava para todos os lados, maravilhado. Indeciso como sempre fui, passeava pelas estantes recheadas de livros novos, velhos, usados, estragados, tirados do lixo, mais ou menos e tantos outros adjetivos. Nem precisa contar do cheiro, né? Cheiro de muita história, tanto nos livros quanto nas dedicatórias, carinhosas, mas perdidas agora.

Com uma enorme felicidade consegui quatro livros interessantíssimos. A pátria em chuteiras, do Nelson Rodrigues; Ed Morte e outras histórias, do Luís Fernando Veríssimo; e dois outros sobre futebol. Saí de lá feliz da vida, como se tivesse encontrado o pote de ouro no final do arco-íris.

A partir daí, abraçado com o saco de livros como se protegesse um saco de livros, foram só conflitos. Ao atravessar um corredor de bebedouros deixados na calçada por uma das milhares de lojas do Centro, o primeiro embate. Em uma ponta, nosso herói, eu, claro. Na outra, uma senhora toda vestida de preto com um mortal guarda-chuva. Para mim, mais parecia o Darth Vader. Nos olhamos durante alguns segundos, só um poderia passar, mas quem iria ceder?

Mais parecíamos um touro e um elegante toureiro. Não preciso dizer que era o toureiro, preciso? Pois bem. Com um rápido movimento, usei minha arma mortal: minha simpatia. Fiz uma reverência como se fazia antigamente, nos tempos da educação ou cavalheirismo, cruzando uma perna por trás da outra e inclinando-me um pouco. Ganhei um sorriso e com tal pagamento a deixei passar.

O segundo combate foi mais agressivo, com mais energia, do jeito que o brasileiro gosta. Ao atravessar a avenida, dei de cara com meu próximo adversário. Um coroa, meio fora de forma, de camiseta e carregando alguns pacotes. Tinha aquela calvície central, estilo ninho de passarinho e utilizava um bigode branco, sempre na moda. Havia uma calçada para nós dois, mas apenas uma reta. Era eu ou ele.

E naquele momento, as pessoas não se deram conta, mas ali a alma do povo brasileiro se revelava. Eu podia ouvir os gritos da multidão a me incentivar, como se estivesse num grande estádio. Ele foi para um lado, eu fui também. Gingou pro outro, fui junto. Bom zagueiro como sempre fui, acompanhava todos os movimentos. Ele tentou mais uma vez e cansou. Chegava a minha hora. Ginguei para os dois lados usando toda a minha malemolência, ele ficou confuso. Numa fração de segundos, que pareceu ter durado toda a eternidade contida em alguns segundos, nos encaramos. Quando comecei a levantar as duas sobrancelhas ao mesmo tempo, como quem diz “e aí, ainda vai encarar a minha marcação mesmo?”, ele começou a rir e me deixou passar. Ninguém aplaudiu ou mesmo reparou nisso, mas foi uma importante vitória para minha carreira de jogador.

Sábado, o relógio marcava 12h30. Em um braço, carregava meu tesouro de livros, com o outro, abraçava meu verdadeiro tesouro, minha morena, a dar leves cheiros e beijos em meu pescoço. Se a metade do dia estava boa desse jeito, eu já começava a rir só de imaginar o que ainda viria a acontecer...
=]

5 comentários:

YslanRodrigues disse...

Bom zagueiro como sempre fui.


kkkkk, conta outra,né?
Esqueceu de falar que foi ver o raxa ainda. hahaha
Abraço

Jéssica Trabuco disse...

Ah Rafael... você é mesmo um poeta, não é?
Que consegue fazer de momentos simples: mágicos!

Tamyle Ferraz disse...

No penúltimo parágrafo me senti em uma partida de futebol...





Beijo Rafa

Anônimo disse...

Eu tbm assaltaria o sebo com o maior prazer e sem peso na consci~encia!rsrsrs. mentira.Amo cheiros de livros, novos ou velhos!

Leni.com disse...

sempre me divirto vindo aqui. Acredito q. sua leveza se revele nos textos.