É domingo. "Ninguém trabalha", "ninguém faz nada", dizem por aí. “É um dia inútil”, falam alguns. O relógio marca 7h39 quando pego o 405 - Parque Dois Irmãos/Expedicionários no começo da linha. O bom dia do cobrador é animado e o motorista liga o rádio e aumenta o volume. “Pra dar uma animada, né?”, fala, olhando para trás por um dos espelhos internos. “Essa vai ser rápida. Pra volta, já deixei duas tapiocas pra gente reservadas com o tapioqueiro”, complemente.
Enquanto seguimos nosso trajeto, rumo ao Centro, o domingo de manhã vai se exibindo. No primeiro campinho de futebol, ex-depósito de lixo, os coroas já estão todos com a camisa laranja do time. Batem bola enquanto esperam o time adversário. Todos descalços, alguns em forma e outros com uma barriguinha saliente.
No campinho mais à frente, alguns adolescentes fazem a vistoria das redes de um dos gols. Estão bem arrumados, com calça jeans e sapato. Devem ter passado rapidamente só para dar uma ajuda, talvez. Dessa vez, os astros são bem mais jovens. Devem ter no máximo uns 12 anos. Conversam enquanto vestem meiões e chuteiras e alguns já estão em cima de uma árvore, rindo despreocupadamente. O motorista suspira: “Ê tempo bom”.
Seguindo caminho, vi que o cabeleireiro já está sentado em uma cadeira na calçada, esperando possíveis clientes para um serviço e uma conversa. No ponto ao lado, o bodegueiro já está conversando e segurando o troco para um cliente. A moça do açougue acabou de tirar o último cadeado.
Não sigo só no ônibus. Não sigo só no coletivo. Subiu um pessoal bem arrumado e cheiroso, com bíblias, roupas sociais e algumas saias jeans até o joelho. Alguns vão em silêncio e outros vão conversando amenidades. Duas paradas depois, mais gente chegando: dessa vez, estilo moda praia. O cheiro de protetor solar briga com o dos variados perfumes.
Dá pra ver um senhor varrendo a calçada, uma jovem jogando água em outra calçada, um rapaz cuidando de um pequeno jardim e uma moça desobstruindo o caminho da água no asfalto. O vendedor de verduras passa e cruza com o rapaz da chegadinha, raridade hoje em dia. O vendedor de algodão-doce caminha lentamente e uma senhora empurra um carrinho de pipoca.
A minha parada chega. “Valeu, irmão. Bom dia aí”, digo para o motorista. “Bom dia, minha joia. Se cuida!”, despede-se ele. O porteiro me entrega o jornal e o zelador pergunta se eu vi os gols de ontem. Um rapaz passa com um balde cheio d’água para lavar o carro. Vejo um amigo indo ao supermercado e outros indo para o cemitério. Hoje é domingo, hoje é Finados. Aposto que vai ter gente vendendo flores por lá.
É domingo. O relógio marca 8h04. "Ninguém trabalha", "ninguém faz nada", dizem por aí. “É um dia inútil”, falam alguns. Sigo para resolver minhas pendências. “Ninguém faz nada?”. Sei.
domingo, novembro 02, 2014
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário