Traduzindo

terça-feira, agosto 26, 2008

Poema-Desabafo

Já chega!
Não agüento mais.
Vai embora, me deixa em paz!
Não agüento mais você.
Estou cansado.
Do seu rosto angelical.
Estou cansado do teu jeito de me olhar.
Do jeito que fala comigo.
Não agüento mais teu abraço apertado.
Estou cansado do teu cheiro bom, teu perfume.
Não suporto mais teus atrasos, que sempre valeram a espera.
Estou cansado dos teus esquecimentos.
Das tuas lembranças engraçadas.
Não suporto mais teu riso gostoso.
Teu jeito doce.
Do teu jeito amável com todos.
Estou enjoado.
Estou cansado do teu beijo.
Não me faz uma falta enorme.
Estou cansado de passar horas ao teu lado.
Estou cansado de passar horas te olhando.
Te cheirando...
Te beijando...
De tu dizer que não me entende.
Estou cansado do teu corpo.
Do teu belo cabelo.
Não suporto mais o jeito que me acalma.
Tua pele macia.
Estou cansado.
De passar horas pensando em você.
De sentir tua falta.
Estou cansado dos teus sonhos malucos.
De nossas conversas absurdas.
Estou cansado do modo como ri fácil de minhas besteiras.
De te aquecer nas noites frias.
Não agüento mais estar ao teu lado.
Já chega!
Agora já foi o bastante.
Não agüento mais mentir.
Já menti demais em um único poema...
=]

sexta-feira, agosto 22, 2008

Afinal, pra que serve o poeta?

Boa pergunta.
Afinal, pra que serve o poeta?
Que pode o poeta entre criaturas senão amar?
Pra que serve mesmo?
Ele nasce para reparar em tudo.
No visto.
E no que ninguém quer ver.
Vê até demais.
O que não queria ver.
Serve para amar demais.
Tem licença pra isso.
Mas não pode ser amado.
Amar por natureza.
Amar mais do que ser amado.
Sempre.
Não pode entregar os versos.
Jamais!
Tesouro sagrado.
Dedicar pode.
Quem veio primeiro: o poeta ou a musa?
As musas.
Várias.
Há amor demais em cada poeta.
Ele nasce para os detalhes,
E para as grandes obras.
Para declarar todos os sentimentos.
Principalmente o amor.
Palavra usada demais.
Sentimento verdadeiro de menos?
O poeta pode tudo.
Criar verdades, mudar o mundo.
Ter mil mulheres.
Um sem futuro.
Quando ele nasceu, nenhum anjo veio dizer o que seria.
Ele já sabia.
Seria um remédio para todas as mulheres.
Amar demais.
Sem nada em troca.
Só inspiração. =]

Sobre o post anterior

Agora percebi que não foi gratuito o pensar sobre criar e resisir.

Foi por conta do nome/título de um dos blogs de um grande amigo, Diego Medeiros.

Havia visto o Criar é resistir e aquilo tinha ficado em minha cabeça, só esperando uma oportunidade para aparecer.

Não foi algo assim tão inesperado, agora sim compreendo.

Em breve, novas postagens, hei de vencer a luta com a preguiça.

Terminarei alguns e escreverei outros.

Grato demais pela atenção.

=]

quinta-feira, agosto 21, 2008

Criar? Resistir?

*Depois de ficar um tempo encarando a folha em branco, eis que tais pensamentos apareceram, meio loucos, mas registrados...

Criar é resistir
Resistir é criar?

O que fazer com a maré contrária?
Resistir ou deixar levar?
Criar uma alternativa.

Criar é resistir.
Resistir é criar?

Lutar contra o que está posto.
Reconhecer vitórias e derrotas
Mas antes de transformar o mundo
Reparar em si, refletir.

Criar é resistir.
Resistir é criar?

Agüentar a pressão.
Fazer da chuva de canivetes
Uma chuva de pétalas.

Criar é resistir.
Resistir é criar?

Ao ver tudo que já
Decidir fazer algo novo.
O devir é necessário.

Criar é resistir.
Resistir é criar?

Qual é o momento?
Resistir ou criar?
Criar e resistir?

Resistir?
Criar?

Resistir.
Criar.
=]

sexta-feira, agosto 15, 2008

Rápido

Passa rápido
feito vento
provoca frescor
bagunça tudo
sacode poeira
levanta as folhas
do meu jardim

e vai embora
passageiro
como deve ser
não perdendo seu caráter
incontrolável
imutável

por isso marca
por ser feito fera
e das mais belas
indomável

por ser um monstro
de beleza e doçura
por amar sem medo
sem nenhuma censura
por não ser santa
nem pedir orações
por ser intensa
desprovida de pudor
por não ser louca
mas não ter senso
por ser autêntica
não esconder emoções
por ser um anjo
destruidor de lares
e corações
=]

domingo, agosto 10, 2008

O que é isso? (sem título)

O sol ia aos pouquinhos se escondendo atrás da linha do horizonte. As montanhas, ao fundo e aos poucos, vão devorando-o e sugando toda a luz. Tudo ocorre lentamente enquanto o ônibus movimenta-se rápido como uma bala. Mesmo com tal velocidade, ainda falta muito tempo de viagem.

E ela esperando o tempo passar. Começa a ler a Bíblia e não duro muito tempo. Não consegue se concentrar. Começa uma reza com o terço entre as mãos. Termina rápido. Liga o rádio, mas as músicas não prestam. Ela quer voltar para casa e tal pensamento transtorna-a. Será que é o certo? A viagem vai ser longa...

O ônibus faz uma parada. Uns desembarcam e novos passageiros sobem. Ela apenas se distrai olhando a escuridão lá fora. Sente alguém sentando ao lado. Não dá importância. Perdida em pensamentos, não reparou em ninguém, pode até ser, que tenha conhecidos viajando junto, mas não percebeu.

Ao parar para olhar em suas pernas, tão grossas que mesmo o fino pano da saia não esconde, repara em algo inusitado. Uma mão estendida oferecendo uma bala.
-Aceita?
Ela vai subindo o olhar, começando na mão e indo até o rosto da pessoa que oferece. Um homem. Muito jovem e com um sorriso muito acolhedor, muito quente.
-Não. Obrigado.
E ela pensando “que homem bonito meu Deus. Bonito demais. Se não for um anjo deve ser um...” Melhor deixar para lá. Afastou tais pensamentos. Nem anjos nem demônios hoje à noite. Mesmo com a recusa, ele continuou olhando-a. Um olhar penetrante, confiante.
-Não nos conhecemos de algum lugar?
-Acho que não. Não lembro de conhecer o senhor. Desculpe.
Mas bem que gostaria, pensou ela. Não, era melhor não.
-Então deve ser de outra vida, brincou ele.
-Bem que poderia ser outra vida mesmo, ela deixou escapar.
E ele perguntou como quem não quer nada:
-Problemas?
-Nada que me tire o sono, ela falou tentando parecer tranqüila e não pensar nos problemas.
-E por que as olheiras? Desculpe reparar, mas mesmo assim você continua muito bonita.
-Obrigada, ela disse.
Por que esse homem fala de modo tão suave, como um encantador tocando flauta para uma serpente? Por que o coração passou a bater mais forte a partir do momento em que olho para o rosto dele? E ele não disse nada de mais. Será magia? Feitiçaria? Ela era considerada por muitos como uma pessoa fria. Mas essas pessoas não existem mais, não há passado. Ela não pode esquecer disto: vida nova. Foi o prometido ao voltar para casa.

Mas que estranho charme tinha o homem ao seu lado. Agora ele está de olhos fechados com a cabeça escorada na poltrona. Tão tranqüilo ele parece... Ela agora pode reparar melhor nele. Tão bonito... E ela sente o corpo esquentar. E a noite está fria. Ele a faz uma pergunta sem nem abrir os olhos:
-Não está com sono ou cansada?
-Não, não estou.
-Não se sente confortável para dormir nessas poltronas?
-Não, não é isso...
Ela não sabe por qual motivo não consegue formular uma frase com mais de três palavras.
-Olha, ele disse, se quiser, pode recostar a cabeça em meu ombro.
-Obrigada.
Como pode esse homem passar tanta confiança? Como pode ela aceitar? Logo ela, tão sofrida, sem encontrar homens de confiança há bastante tempo. Afastando tais pensamentos ela vai aos poucos encostando a cabeça no ombro dele.

...

Pela primeira vez na viagem ela sente uma sensação de conforto. Ela tenta não relaxar demais. Não parecer uma mulher oferecida. E que homem cheiroso, pensa ela. O corpo continua quente. Sente vontade de não sair mais dali de maneira alguma. Repentinamente o ônibus dá um tranco. Um forte tranco. Todos os passageiros tomam um susto. Alguns pertences voaram longe. Todos estão um pouco desarrumados.

...

Quando ela percebe, está abraçada ao braço dele, e, a mão dele, em sua coxa.
-Tomara que ninguém tenha se machucado, disse ele.
-Que Deus proteja todos.
-Acredita mesmo em Deus?
Por que perguntar aquilo? Ele perguntou sem nem se alterar, como quem pergunta se gosta de alguma comida ou se acha algo ruim ou legal.
-Acredito sim.
-Faz tempo?
-... e você?
-Claro, há forças do bem e do mal atuando na Terra.
Que calma ao falar, como se estivesse explicando a uma criança que dois mais dois são quatro... Como ele sabia que há pouco ela começou a ser religiosa... E ela continuava abraçada ao braço dele e ele com a mão em sua coxa. A mão quente, leve, mas tão quente... Foi esquentando ao longo da conversa, está tão quente e lhe dá um prazer que ela tenta disfarçar. Não podia parecer carente ou uma pervertida. Mas e ele: Por que não tira a mão da coxa? Sentirá prazer também?
-Se há um Deus, disse ele, deve haver algo para representar o mal, não acha?
-Prefiro não acreditar nisso.
-Prefere, mas acredita?
-Acredito somente em Deus.
-E por que a demora para responder?
-...
-Não se preocupe, vamos deixar anjos e demônios de lado hoje à noite.

...

“Essa frase... Foi como se ele a tivesse arrancado de minha cabeça. Será que ele me ouviu dizer? Não, eu apenas pensei. Será coincidência? O que esse homem tem que eu não consigo compreender... E porque essa conversa sobre Deus e forças do mal? Anjos e demônios. Não consigo entender...”, ela começou a pensar de olhos fechados. Ele não disse mais, como se estivesse dando um tempo para que ela pudesse pensar...

...

Então ela decidiu não mais pensar em nada, apenas continuar ali como estava, sentindo aquela mão quente sobre sua coxa, lhe dando um prazer secreto, aumentando aos poucos. Era como se daquela mão quente o calor fosse irradiado para todo o resto do corpo. Ela não entendia, mas não conseguia se concentrar para pensar. Estava apertando o braço daquele homem com força. Começava a morder os lábios...
=]